Título: 'O céu não é o limite para superávits'
Autor: André Palhano
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Economia, p. B5

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem não ter dúvidas de que existe uma preocupação com o impacto do câmbio nas exportações. "A questão é o que fazer. A economia está buscando equilíbrios e precisamos lembrar que o céu não é o limite para os superávits comerciais", enfatizou.

Em palestra na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham) de São Paulo, Meirelles disse, ainda, que os movimentos do câmbio nos últimos meses têm sido impactados mais pelo fluxo comercial que pelo fluxo financeiro. .

Para ele, num passado recente as preocupações dos exportadores com o câmbio eram sem fundamento. "Em abril de 2003, em uma reunião com 50 grandes empresários do setor, eu ouvi que poderíamos ter uma crise cambial em outubro daquele ano e um déficit na balança comercial em setembro do mesmo ano. Alguns ainda afirmaram que o Brasil não sobreviveria a um dólar abaixo de R$ 3. Quando chegamos a setembro, o País registrava o maior saldo comercial acumulado em sua história", ilustrou ele, lembrando que o mesmo ocorreu em meses seguintes.

"Não estamos na mesma situação de 1998. Hoje temos câmbio flutuante e a função do BC, isso sim, é evitar distorções que leve a situações de crise", disse.

Meirelles enfatizou a estabilidade dos preços e, por conseqüência, a maior previsibilidade da inflação como premissas já conquistadas na economia. Também citou a melhora nas contas externas "e o que parece ser um crescimento sustentável da economia neste momento, com aumento do emprego e da renda real do trabalhador. "Termos esse crescimento com bons resultados externos é algo relativamente novo na nossa história", observou.

INFLAÇÃO E JUROS Segundo ele, é importante que a sociedade saiba que a autoridade monetária (o BC) vai entregar a inflação na meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). "É por isso que a meta do BC é a inflação e não a taxa de juros", afirmou.

Meirelles enfatizou, ainda, que há um "desafio enorme" para reduzir os juros e obter uma taxa maior de crescimento econômico sustentado. Mas, para ele, essa discussão tende a ocorrer com a premissa de que a estabilidade de preços está conquistada e o BC cumprirá o seu papel.

O presidente do BC destacou que não só a inflação corrente tem mostrado trajetória consistente com as metas, mas também as expectativas estão ancoradas na meta, referindo-se às projeções do mercado para 2007. "Isso aumenta a previsibilidade, alonga os horizontes de planejamento e reduz o prêmio de inflação no retorno demandado nos investimentos", explicou.

Ele disse que entende a preocupação com os juros, mas diz ser preciso discutir as suas causas. "Nós vemos decisões voluntárias para baixar os juros como uma estratégia equivocada, que levaria a um aumento da taxa real no médio e no longo prazos", destacou Meirelles.