Título: Indústria tem maior queda em 9 meses
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2006, Economia, p. B6

Após mostrar fôlego surpreendente em maio, a produção industrial recuou em junho, com queda de 1,7% ante o mês anterior e de 0,6% ante igual mês de 2005, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A redução, generalizada entre os setores, foi a maior em nove meses, perdendo somente para a queda de 2% em setembro de 2005. Mesmo assim, o resultado ruim não impediu um crescimento de 2,6% no primeiro semestre, embalado pelo mercado interno, na comparação com igual período de 2005.

"O número que reflete melhor o atual momento da indústria é o do semestre", avalia Estevão Kopschitz, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Para Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, a expansão semestral "reflete, sobretudo, os efeitos positivos da maior oferta de crédito, do crescimento do rendimento médio real e da inflação em queda".

O bom desempenho do semestre foi efeito muito mais do resultado do primeiro trimestre (4,6% ante igual período de 2005) do que do segundo (0,8%, o pior desempenho desde o quarto trimestre de 2003). Os resultados de junho jogaram para baixo os dados acumulados no semestre.

Sales observou que a queda da produção foi generalizada, atingiu 58% dos 755 produtos pesquisados e foi provocada por fatores como pausas informais nas fábricas para os jogos da Copa do Mundo, paralisações por motivos técnicos na indústria de petróleo e greves no setor automobilístico.

Ele citou também o fato de que junho teve um dia útil a menos do que em 2005 e que os dados de sondagem da Confederação Nacional da Indústria mostraram níveis de estoque acima do esperado, o que pode ter influenciado o resultado. "A dimensão da queda da produção sugere que houve mais que uma acomodação em relação a dados positivos de maio."

Kopschitz ressaltou que o Ipea previa uma queda bem menor na produção ante maio, não superior a -0,7%. Para ele, o recuo no mês levará o Ipea a revisar a projeção para o crescimento da produção industrial em 2006 de 4,5% para um número "mais perto de 4%".

Analistas não acreditam que o mau desempenho deva ser avaliado como tendência para a indústria. O próprio Sales adiantou que os dados da sondagem conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgados nesta semana e que mostraram utilização recorde de capacidade instalada em julho, "pode abrir perspectiva de que todos esses fatores (negativos) estejam concentrados em junho".

Para Marcela Prada, da Tendências Consultoria, " o cenário para a atividade econômica continua favorável, dadas a continuidade do aumento da renda real, a expansão do crédito e a redução da taxa de juros".

Kopschitz também espera melhoria nos resultados de julho, já que indicadores antecedentes têm relevado maior nível de atividade e os empresários têm mostrado otimismo nas sondagens.