Título: 'Economist' diz que Lula perdeu o brilho
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Nacional, p. A9

A revista britânica The Economist afirma que a voz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu seu 'brilho' e não é a mais alta proveniente da América Latina, nem mesmo da esquerda da região. 'Ela pertence a Hugo Chávez, o presidente populista da Venezuela.' A revista classifica de ingênua a política externa de Lula na América do Sul e acha 'realmente estranho' que ele apóie a candidatura da Venezuela para ocupar um dos assentos do Conselho de Segurança da ONU reservados para a América Latina. 'Lula está assim ajudando a oferecer a seu principal rival pela liderança na América do Sul uma plataforma global.'

Segundo a Economist, Lula supõe que a melhor maneira para conter Chávez é incluí-lo no Mercosul. 'E a resposta de Chávez? Ajudar a humilhar o Brasil na Bolívia, onde os ativos de gás e petróleo da Petrobrás enfrentam nacionalização, e trabalhar para enfraquecer os princípios democráticos, de mercado livre sobre os quais o Brasil fundou o Mercosul', observa.

A revista afirma que, além da 'ingenuidade' de sua política externa, há duas razões mais sérias para Lula ter perdido o 'brilho'. Ressalta que uma delas é o 'agravamento da corrupção política' no Brasil e cita os escândalos que atingiram o governo no ano passado e neste mês.

A outra razão, analisa, é a decepção com o comportamento da economia brasileira - um crescimento de apenas 2,8% ao ano durante o governo Lula. 'Arrecadações tributárias crescentes, em vez de gastos mais inteligentes, têm mantido as contas fiscais sob controle', observa. 'O investimento é freado pela burocracia, infra-estrutura pobre e incerteza regulatória, como também pela elevada carga tributária.'

Por isso, avalia a Economist, é impressionante que Lula esteja caminhando para um segundo mandato 'que de várias maneiras não parece justificado'. Segundo a revista, 'a maioria dos brasileiros concluiu há muito tempo que seus políticos são irremediavelmente corruptos. Mas muitos brasileiros identificam Lula como um dos seus e não acham que ele se beneficiou pessoalmente da corrupção'.

Para a revista, contudo, o segredo do sucesso eleitoral se assenta nos programas dirigidos às classes pobres. Observa que graças aos programas sociais do governo, à inflação baixa e aumentos no salário mínimo, a renda dos pobres está crescendo mais rapidamente do que a da classe média.

Em seu segundo mandato, diz a revista, Lula deveria fazer um esforço para livrar o País de sua armadilha de baixo crescimento e fazer reformas na área da Previdência e trabalhista, nas agências regulatórias e na educação. Mas afirma que isso será difícil. 'Ele poderá ficar ainda mais à mercê do apetite voraz de seus aliados no Congresso por dinheiro público.'