Título: Alckmin: PF faz operação tartaruga
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Nacional, p. A10

Em meio a abraços de eleitoras e comentários de 'como ele é cheiroso', o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, protestou ontem contra o que chamou de 'grande operação tartaruga' da Polícia Federal (PF) para empurrar para depois das eleições as investigações sobre o dossiê antitucano.

Durante caminhada no calçadão de Copacabana, Alckmin culpou o governo federal pela demora na elucidação do escândalo que derrubou oito colaboradores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive o deputado e presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), que deixou a coordenação da campanha pela reeleição.

O candidato reclamou da falta de informações da PF quase duas semanas depois da prisão dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha em um hotel de São Paulo com R$ 1,75 milhão que serviria para comprar o dossiê Vedoin. 'O que é triste é que 13 dias depois (da prisão) ninguém sabe o dono das contas, o dono do dólar, como o dólar entrou no País. É claro que o culpado é o governo, que quer deixar para depois das eleições. Mas o que a eleição tem a ver com um problema criminal?'

Para ele, 'a campanha toda do Lula' está envolvida no episódio. 'Tem muito mais gente envolvida nisso, a direção do PT, a campanha toda do Lula, do coordenador da campanha e presidente do partido ao churrasqueiro e diretor do Banco de Santa Catarina, o diretor do Banco do Brasil', citou, referindo-se a Jorge Lorenzetti, ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) e churrasqueiro do presidente e ao ex-diretor de Gestão e Risco do BB Expedito Afonso Veloso.

Alckmin chegou ao Rio pouco depois das 13h. Ainda no Aeroporto Santos Dumont, resolveu apostar na sorte: comprou, por R$ 50, uma cartela completa da loteria federal. Escolheu o número 1952, ano de seu nascimento. Se for sorteado, vai levar R$ 100 mil, prometeu o vendedor Jorge de Souza, que há 20 anos vende bilhetes no aeroporto. O candidato tucano quis saber como seria no jogo do bicho. 'É galo, 52 é galo. E vamos à vitória', estimulou Jorge, feliz com a venda robusta.

O tucano deu autógrafos e assinou até o gesso no braço de Alessandra Gomes: 'Abraço e saúde, Geraldo Alckmin.' No corpo-a-corpo em Copacabana, caminhou e tomou água de coco com a candidata do PPS ao governo do Rio, deputada Denise Frossard, embora seu partido tenha candidato próprio, o deputado Eduardo Paes.

'Arrebenta no debate hoje, Geraldo', desejou a eleitora Michele Barbosa. Alckmin agradeceu e aproveitou para cobrar a presença de Lula. 'O debate é talvez o instrumento mais verdadeiro da campanha eleitoral. Comparecer é um respeito ao eleitor. Se algum candidato não for, o problema é dele, o prejuízo é dele', disse - o presidente confirmou mais tarde que não compareceria.

Ao som da palavra de ordem 'chega de cuecão, agora é Geraldão', Alckmin prometeu 'conciliar política e ética, política e honra' e mais uma vez ligou Lula aos escândalos de corrupção e dinheiro ilegal. 'Não há país que tenha ido para frente com a praga da corrupção. É preciso ter um governo que não envergonhe o povo', afirmou.

SEGUNDO TURNO

Certo de que estará no segundo turno, Alckmin disse que não queria ser 'deselegante' com os outros candidatos e por isso só falaria em alianças depois de 1º de outubro. Prometeu um governo calcado em três pontos: ética, serviço público de qualidade e condições para geração de emprego. Como a maioria dos candidatos, ele fala em trabalho formal cercado pela informalidade: cabos eleitorais que fazem um bico na campanha e recebem R$ 25 diários para carregar faixas e bandeiras. Os irmãos Edson e Ernandes de Araújo Ribeiro, de 16 e 17 anos, por exemplo, carregavam bandeiras do PSDB. Edson nem tirou o título de eleitor. Ernandes prometeu fidelidade ao partido que paga seu salário provisório.

Depois da caminhada, Alckmin foi descansar num hotel na Barra da Tijuca, perto da TV Globo, de onde iria para o debate. Com a ajuda do marqueteiro Luiz Gonzalez, preparou perguntas específicas para Lula, mas não contou quais eram.