Título: Sérgio Cabral aposta no interior para evitar segundo turno no Rio
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Nacional, p. A14

Uma mobilização massiva de prefeitos, com suas máquinas municipais, vereadores e cabos eleitorais durante a votação, transformou-se no último movimento do candidato do PMDB ao governo do Rio, senador Sérgio Cabral Filho, para tentar encerrar a disputa já no próximo domingo. 'O interior vai dar o primeiro turno', acredita o candidato a vice-governador, Luiz Fernando Pezão, encarregado de articular apoio nas cidades fluminenses - segundo ele, mais de 80 dos 92 prefeitos apóiam o peemedebista. Perto do empate técnico com os demais concorrentes, segundo as pesquisas, Cabral aposta no esquema do ex-governador Anthony Garotinho e sua mulher, a governadora Rosinha Garotinho (PMDB), para vencer.

'Os prefeitos vão botar a tropa na rua', confirma um secretário. 'Poderá ser uma vitória apertada.'

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que a ação dos prefeitos pode ser decisiva. Ela mostrou queda de Cabral de 43% para 40%, subida de Denise Frossard (PPS-PFL) de 19% para 21% e crescimento de Marcelo Crivella (PRB), de 15% para 19% - empate técnico no segundo lugar. O peemedebista tem 45% dos votos válidos. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais para mais ou menos.

Nos últimos dias, duas operações políticas diversas, atribuídas aos dois principais chefes políticos do Rio - Garotinho e o prefeito da capital, Cesar Maia (PFL), rivais -, ajudaram a alterar o quadro. Uma forte campanha pró-Cabral entre eleitores protestantes aparentemente tirou votos de Crivella - senador e bispo evangélico licenciado e até então segundo colocado isolado na disputa. Já a força da prefeitura da capital infla a candidata do PPS-PFL.

Uma pesquisa na área religiosa, feita de 12 a 14 de setembro pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) com 5 mil eleitores, indica que, entre protestantes e evangélicos, 30,2% declaram votar em Cabral e 28,4%, em Crivella, um dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus. Na Assembléia de Deus, o peemedebista vence o bispo por 34,1% a 24,1%, e na Igreja Batista, por 36,6% a 17,9%. Na Universal, conhecida pela fidelidade dos eleitores à orientação dos pastores, Crivella, embora vencedor, tem intenções de voto abaixo do esperado: 59,7%.

As dificuldades de Crivella na área podem ser em parte atribuídas a Garotinho. Evangélico, ele tem trabalhado por Cabral nas religiões pentecostais. Pezão lembra que a governadora Rosinha, também evangélica, tem feito campanha pelo peemedebista no segmento religioso. O deputado Eduardo Cunha (PMDB) e Fábio Silva, ambos da Rádio Melodia (emissora com público pentecostal), e o deputado Edson Albertassi (PMDB)também fazem campanha por Cabral. O pastor Silas Malafaia, líder no setor, defendeu Cabral na TV.

Analistas destacam os investimentos que o prefeito Cesar Maia fez na zona oeste da capital como causas do crescimento de Denise Frossard. A região é mítica para os políticos populistas do Rio, que tiraram de lá fortes votações no passado. Maia, porém, relativiza o peso da região.

'O crescimento na capital foi quase homogêneo para a faixa dos 20% a 22%', afirma. O maior crescimento, afirma, se dá na capital e em Niterói e São Gonçalo.