Título: BC reduz projeção de crescimento do PIB de 4% para 3,5% em 2006
Autor: Denise Chrispim Marin, Fábio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Economia, p. B1

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) deve fechar este ano abaixo de 3,5%, contrariando as previsões iniciais que apontavam para um índice entre 4% e 4,5%, segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros.

Com o resultado do IGP-M de setembro de 0,29% divulgado ontem, que ficou 0,08 ponto porcentual menor do que o índice de agosto e foi derrubado pela queda dos preços no atacado, a inflação acumulada neste ano até este mês é de 2,26%. Em 12 meses, a alta é de 3,28%.

Para fazer essa projeção anual, Quadros considera que a inflação do quarto trimestre será inferior a 1%, que foi o resultado obtido no mesmo período de 2005. 'Há mais fatores indicando que a inflação do último trimestre será inferior a 1%.' Entre eles, Quadros destaca o risco menor de que haja reajuste nos combustíveis e também o fato de os preços da soja e dos bovinos estarem menos pressionados.

Se a previsão anual do IGP-M se confirmar, o resultado de 2006 será o terceiro menor da série histórica do indicador. O recorde de baixa foi atingido no ano passado, quando o IGP-M fechou em 1,21%.

Quadros observa que, apesar de não ser o menor resultado, a inflação deste ano está sendo menos influenciada por fatores transitórios, o que mostra uma mudança qualitativa. Em 2005, no entanto, houve cinco meses de deflação consecutiva. MÁRCIA DE CHIARA

O Banco Central (BC) cedeu às evidências do fraco desempenho da economia entre abril e junho e reduziu sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006 de 4% para 3,5%. Mesmo com esse recuo, a projeção ainda é mais otimista que a do mercado financeiro, que aposta em uma expansão de apenas 3,09% da atividade econômica neste ano, de acordo pesquisa divulgada segunda-feira. O BC também reduziu sua estimativa de inflação para 2006 de 3,8% para 3,4%, medida pelo IPCA. Para 2007, o primeiro ano do novo mandato presidencial, a inflação deverá alcançar 4,3%.

As novas projeções constam do Relatório de Inflação do Terceiro Trimestre, divulgado ontem. As estimativas foram concluídas no fim de agosto e levaram em conta um cenário no qual permaneceriam constantes os juros básicos, em 14,25% ao ano, e a taxa de câmbio, em R$ 2,15 por dólar. As previsões do BC, porém, indicam uma dose de ceticismo não repetida pelo restante do governo - ao menos neste período pre-eleitoral.

Na segunda-feira, o Ministério do Planejamento garantiu ao Congresso Nacional que o crescimento da economia brasileira neste ano será de 4% - aposta 0,5 ponto porcentual abaixo de sua previsão anterior. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também sustenta essa previsão (veja reportagem na página B3).

A posição do BC leva em conta principalmente o desastre do segundo trimestre, quando o PIB cresceu apenas 0,5%, segundo o Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Beviláqua, o desempenho da economia no período foi 'mais modesto' que o esperado. Apesar da expectativa de recuperação do ritmo de crescimento neste semestre e de ampliação do consumo das famílias em 4,2% no ano, o estrago já está feito.

O BC revisou para baixo as projeções de crescimento para todos os setores da indústria, a agropecuária, a construção civil e os serviços. A estimativa de expansão da indústra extrativa, que era de 9,4%, caiu para 7,1%, por conta de paralisações nas plataformas de petróleo da Petrobrás em junho e julho.

Para a indústria de transformação, que sofreu mais incisivamente o impacto da redução do PIB no segundo trimestre, o recuo foi de 4% para 2,8%. O crescimento na construção civil, antes imaginado em 7,6%, agora será de 5,7%. No caso dos serviços de utilidade pública, a redução será de 5,2% para 3,9%.

Embora neste ano a safra agrícola deva alcançar 117 milhões de toneladas nas contas do IBGE - o que significará aumento de 4,5% em relação a 2005 -, o setor agropecuário igualmente pressionou a revisão para baixo. O BC reviu sua projeção de crescimento para o setor de 3,6% para 3%, devido ao fraco desempenho dos segmentos de leite e produção de aves, bem como das lavouras de arroz e algodão.

Dado sensível na economia, por corresponder aos investimentos na ampliação das estruturas de produção, a Formação Bruta do Capital Fixo também foi alvo de revisão pelo BC. Sua expansão, antes imaginada em 8,3%, ficará em 7,1% neste ano.

O Relatório do BC, entretanto, elabora um 'cenário benigno' para a inflação futura - algo que sugere a continuidade da redução da taxa básica de juros, a Selic, caso os riscos ainda presentes na economia mundial não se tornem realidade. Para o ano, a projeção para o IPCA caiu de 3,8% para 3,4%. Para 2007, a estimava anterior, de 4,2%, aumentou ligeiramente, para 4,3%. O mercado espera uma taxa de inflação de 3,03% em 2006, e de 4,3% em 2007.

Nos dois anos, o IPCA tenderia a cumprir a meta de inflação, que é de 4,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo. Segundo Beviláqua, há possibilidade - ainda que pequena, calculada em 20% - de a inflação deste ano ficar abaixo do piso da meta. Ou seja, menor que 2,5%. Nos próximos anos, o IPCA tenderá a oscilar em torno do centro da meta, de 4,5%, em vez de permanecer na margem de cima, como vinha ocorrendo desde 2001. 'Caminhamos para uma nova etapa da economia brasileira, de crescimento e consolidação da estabilidade', disse Beviláqua.