Título: Investimento chega a 20,1% do PIB
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Economia, p. B4

A taxa de investimentos brasileira atingiu 20,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2006. O número, embora seja o mais alto para o período desde 1997, mostra que o nível de investimentos no País continua insuficiente para um crescimento mais acelerado.

O economista Paulo Levy, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), observa que a taxa de investimentos em quatro trimestres acumulados mantém-se em torno de 20% desde o segundo trimestre de 2005. 'É uma taxa baixa e claramente insuficiente para sustentar um ritmo de crescimento maior que aquele estamos tendo', diz Levy (ver matéria nesta página). Ainda assim, o economista prevê uma modesta recuperação até o fim do ano, baseada em dados de julho. A taxa de investimentos do segundo trimestre foi inferior à do primeiro, que ficou em 20,4% do PIB.

No primeiro semestre, a taxa de investimentos ficou em 20,5%, superior aos 19,9% do primeiro semestre de 2005, e o maior nível no primeiro semestre desde 1995. A taxa de poupança foi de 22,7% do PIB no primeiro semestre de 2006, inferior aos 23,2% do mesmo período de 2005 e aos 24,1% do pico alcançado no primeiro semestre de 2004.

Segundo a economista Cláudia Dionisio, da Coordenação de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento da taxa de investimentos no primeiro trimestre e no primeiro semestre - em relação ao mesmo período de 2005 - deveu-se à queda da taxa básica de juros, a Selic (que saiu de 19,75%, no segundo semestre de 2005, para os 14,25% atuais) e ao aumento do crédito às empresas.

O aumento da taxa de investimentos era esperado, já que a formação bruta de capital fixo (que equivale aproximadamente aos investimentos) cresceu 5,9% no primeiro semestre de 2006, comparado a igual período de 2005, ritmo superior ao do PIB, que se expandiu 2,2% na mesma base de comparação.

Segundo o IBGE, o PIB do segundo trimestre de 2006 em valores correntes atingiu R$ 508,7 bilhões, sendo R$ 453,8 bilhões de valor adicionado (produção de riqueza) e R$ 54,9 bilhões de impostos sobre produtos. No segundo trimestre de 2005, o PIB em valores correntes foi de R$ 480,2 bilhões. A diferença de R$ 28,6 bilhões entre o segundo trimestre de 2006 e de 2005 foi composta por R$ 5,5 bilhões de aumento em volume (correspondente ao fraco crescimento de 1,2% divulgado anteriormente pelo IBGE) e R$ 23 bilhões, ou 4,7%, de crescimento em preços. No primeiro semestre de 2006, o PIB acumulado foi de R$ 987,1 bilhões, ante R$ 918,4 bilhões em 2005.

No primeiro trimestre de 2006, o valor adicionado pela agropecuária foi de R$ 37,9 bilhões, o da indústria foi de R$ 184,5 bilhões, e o dos serviços, R$ 252,9 bilhões. No semestre, a agropecuária contribuiu com R$ 72,9 bilhões, a indústria com R$ 352,2 bilhões, e os serviços com R$ 501,3 bilhões.

O único setor a apresentar queda no PIB em valores correntes no primeiro semestre foi a agropecuária, saindo de R$ 76,9 bilhões no primeiro semestre de 2005 para R$ 72,9 bilhões em igual período deste ano, segundo o IBGE. Segundo a economista Maria Laura Muanis, o PIB da agropecuária cresceu apenas 0,3% no primeiro semestre em volume, mas os preços caíram mais, por causa da valorização do real e da crise do setor agrícola. Com isso, o PIB agrícola acabou recuando.

Pelo lado da demanda, no primeiro semestre de 2006 o consumo das famílias atingiu R$ 557,1 bilhões, o consumo do governo ficou em R$ 178,8 bilhões e os investimentos foram de R$ 202,2 bilhões. No mesmo período de 2005, os valores foram de, respectivamente, R$ 516 bilhões, R$ 162,5 bilhões e R$ 183 bilhões. As exportações de bens e serviços recuaram em valores para R$ 153,4 bilhões no primeiro semestre de 2006, em relação aos R$ 156,9 bilhões do mesmo período de 2005. As importações de bens e serviços subiram de R$ 117,7 bilhões para R$ 120,8 bilhões.

POSIÇÃO EXTERNA

Segundo o IBGE, o aumento do consumo das famílias contribuiu para a queda da taxa de poupança de 23,9% do PIB para 23,2% no primeiro trimestre. Pelo lado externo, o consumo doméstico mais aquecido reduziu a 'capacidade de financiamento (conceito próximo ao saldo em conta corrente) do País para R$ 3,1 bilhões no segundo trimestre do ano, inferior aos R$ 5,9 bilhões de igual período do ano passado. Segundo Claudia Dionisio, do IBGE, a redução na capacidade de financiamento é resultado especialmente do recuo do saldo externo de bens e serviços no período.

No segundo trimestre de 2006, o saldo externo de bens e serviços foi de US$ 16,6 bilhões, inferior aos US$ 20,9 bilhões do segundo trimestre do ano passado. Em segundos trimestres, o Brasil vem apresentando capacidade de financiamento desde 2003, por causa da melhoria do saldo externo a partir daquele ano. Antes, o País apresentava sucessivas necessidades de financiamento (conceito próximo ao déficit em conta corrente).

Os números do IBGE também mostraram uma melhora no perfil das contas externas do País no segundo trimestre, com redução de R$ 3,5 bilhões no pagamento de juros, compensada em parte pelo aumento de R$ 2,2 bilhões na remessa líquida de lucros e dividendos.