Título: China bloqueia queixa dos EUA e Europa na OMC
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2006, Economia, p. B5

O governo da China bloqueia a tentativa dos Estados Unidos, da Europa e do Canadá de abrir uma investigação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as suas leis comerciais de importação e deixa claro que o país não quer se tornar apenas um local de montagem de produtos.

Pela primeira vez, uma aliança de países ricos decide levar Pequim a um tribunal internacional. O caso, que voltará a ser apresentado à OMC no final de outubro, será, para os diplomatas, um teste importante para saber como será a reação do governo chinês perante juízes internacionais.

A disputa ocorre por causa de um mercado de US$ 19 bilhões no setor de autopeças. Os países ricos acusam a China de exigir que 60% das peças usadas na fabricação de um veículo no país venham de fornecedores locais, impondo, assim, tarifas mais altas de importação.

Para os Estados Unidos, que contam com um déficit comercial de US$ 202 bilhões com a China, as medidas de Pequim 'distorcem' o comércio mundial e devem ser retiradas para que possam exportar. 'As medidas desencorajam o uso de autopeças importadas dos Estados Unidos e de outros países por fabricantes na China na montagem de novos veículos', afirmou um diplomata americano à OMC.

Para a Europa, a China deveria cobrar tarifas de 10% sobre as autopeças, não de 25%, por suas obrigações na OMC. 'As medidas são discriminatórias e atingem os princípios da OMC', afirmou Carlo Trojan, embaixador da Comissão Européia na OMC. Para o Canadá, as práticas chinesas são inconsistentes com as leis internacionais.

Já a China fez questão de defender a sua política e lamentou a decisão dos países ricos de lançar a ofensiva. Pequim acredita que as consultas entre os governos deveriam ter continuado e lembrou que já reduziu suas tarifas de importação de forma significativa. O resultado teria sido uma abertura de mercados 'sem precedentes'.

Os diplomatas de Pequim ainda garantem que suas leis são consistentes com as regras da OMC e não se trata de uma prática discriminatória contra nenhum país. A China explicou que as tarifas servem apenas para impedir que uma empresa importe um veículo todo desmontado e que as fábricas locais sirvam apenas para a montagem do veículo que será vendido no país.

PROTECIONISMO

O caso das autopeças não é o único que coloca chineses e os países ricos em confronto. Nesta semana, A Câmara de Comércio dos Estados Unidos na Ásia alertou que uma 'onda protecionista' estaria ganhando força na China e o governo americano teria de ser duro nas negociações com Pequim. 'Os sinais que estamos recebendo hoje da China é de menos reformas e mais foco em um planejamento industrial liderado pelo estado', afirmou Jeremie Waterman, diretor da Câmara.

Cinco anos após a entrada da China na OMC, os empresários americanos pedem que Washington seja vigilante em relação às práticas de Pequim.Temas como pirataria e proteção de propriedade intelectual ainda poderiam se transformar em uma nova disputa na OMC.

Pirataria também causa disputa

Os Estados Unidos devem estar preparados para impor sanções comerciais 'dolorosas' contra a China caso o país asiático decida recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) na questão da luta contra a pirataria, disse ontem a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab.

Segundo ela, mesmo que os EUA ganhem uma eventual disputa, os custos poderiam ser superiores aos benefícios. Para Susan, se a China não acatasse uma eventual decisão contrária na OMC, os EUA teriam de 'sofrer alguma dor' por conta da imposição de sanções às importações chinesas. 'Estamos nos preparando para enfrentar essa questão caso ela vá mesmo adiante. Mas é preciso, em primeiro lugar, que ela seja de fato apresentada.'

A Câmara de Comércio Americana estima que a China represente entre 60% e 65% das perdas anuais das empresas dos EUA com pirataria.