Título: PF pede quebra de sigilo de mais 500 linhas para rastrear R$ 1,75 mi
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2006, Nacional, p. A6

A Polícia Federal pediu à Justiça de Mato Grosso a quebra do sigilo de mais 500 linhas telefônicas, fixas e móveis, identificadas na investigação sobre o dossiê Vedoin, contra políticos tucanos, pelo qual o PT iria pagar R$ 1, 75 milhão às vésperas do primeiro turno das eleições.

A PF considera fundamental a medida porque acredita que o caminho mais curto para chegar à origem do dinheiro é pela localização de contatos que ex-dirigentes petistas teriam feito com instituições financeiras, casas de câmbio e doleiros para amealhar o dinheiro.

O rastreamento do Banco Central e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) é lento, burocrático e não tem objetividade, na avaliação de investigadores do caso.

A PF constatou que só nas agências do Bradesco em São Paulo foram registrados, nos 20 dias que antecederam a descoberta do golpe, 200 mil saques de até R$ 10 mil cada.

O novo pedido da PF está sobre a mesa do juiz Jefferson Schneider, da 2.ª Vara Federal de Cuiabá, que conduz o processo sobre a rede de sanguessugas, organização criminosa que desfalcou o Tesouro em R$ 110 milhões com a venda de ambulâncias superfaturadas.

Há duas semanas, a Justiça já havia autorizado o acesso a dados relativos a 70 linhas telefônicas. A PF chegou aos outros 500 números a partir da análise dos extratos com chamadas recebidas e realizadas por sete quadros do PT ligados à trama.

Estão sob investigação Expedito Veloso (ex-diretor de Análise de Risco do Banco do Brasil), Jorge Lorenzetti (churrasqueiro do presidente Lula e araponga do PT), Oswaldo Bargas (ex-diretor do Ministério do Trabalho), Freud Godoy (ex-guarda-costas presidencial), Valdebran Padilha (ex-arrecadador de campanhas do partido), Gedimar Passos (ex-agente da PF) e Hamilton Lacerda (ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante ao governo).

PROGRAMA

O setor de inteligência da PF armazenou no projeto X, sofisticado programa de computador, as informações contidas no histórico de comunicações telefônicas dos petistas. A análise das planilhas aponta que, de 15 de agosto a 15 de setembro, os 7 que estão na mira da PF mantiveram contato com 500 números. Eles fizeram uso de várias linhas. Lacerda, por exemplo, utilizou quatro celulares.

A PF avalia que a ampliação do rastreamento não vai jogar no marasmo a investigação. Ao contrário, considera importante a medida porque os suspeitos não estão colaborando. Ora apresentam uma versão inverossímil, ora silenciam.

Lacerda, por exemplo, declarou formalmente que levava um notebook e boletos de doação de campanha do PT na mala que entregou a Gedimar Passos em um hotel em São Paulo. O relato do ex-coordenador da campanha de Mercadante foi logo desmascarado. Valdebran revelou que Lacerda levou dinheiro vivo a Gedimar.

A estratégia que os investigadores consideram adequada é promover no computador o cruzamento de informações dos documentos telefônicos com as planilhas de movimentação bancária. 'É como buscar uma agulha no palheiro', reconhece o delegado Diógenes Curado, que preside o inquérito do dossiê. Ele pretende concluir a apuração até uma semana antes do segundo turno das eleições.