Título: Ocidente condena morte de jornalista
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2006, Internacional, p. A8
O assassinato da jornalista russa Anna Politkoviskaya, no sábado, desencadeou uma onda mundial de manifestações e protestos exigindo o esclarecimento do crime. As condenações mais veementes vieram da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa (OSCE) e da União Européia, que exigiram do governo de Vladimir Putin - do qual Anna era uma das mais implacáveis críticas - uma investigação conclusiva.
A Anistia Internacional disse que a Rússia perdeu 'uma corajosa e dedicada defensora dos direitos humanos'. Os EUA, por meio do porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, expressaram 'profundo choque' pelo assassinato. O chanceler francês, Philippe Douste-Blazy, afirmou que 'a brutalidade deste crime horrível comove a todos os defensores da liberdade de expressão'.
O Kremlin manteve silêncio sobre o crime. Anna tinha 48 anos e nasceu em Nova York, quando seus pais, diplomatas ucranianos a serviço da URSS, trabalhavam na sede da ONU.
Autora de vários livros e reportagens que denunciavam abusos das forças russas na guerra na Chechênia, Anna foi morta com vários tiros no elevador do edifício onde morava, no centro de Moscou. Nos últimos anos, a jornalista denunciou ter recebido várias ameaças de morte por parte dos organismos de inteligência russos.
'Putin, puro produto dos serviços secretos, não conseguiu superar suas origens e nunca deixou de atuar como coronel da tristemente célebre KGB', acusou a jornalista em seu livro Putin's Russia (A Rússia de Putin). 'A Chechênia é o reino da barbárie. Um a cada dois mortos é um civil abatido sumariamente', dizia em outro trecho.
Em 2004, Anna acusou o serviço de inteligência russo de tentar envenená-la: foi internada após tomar chá durante um vôo para a cidade de Beslan, na Ossétia do Norte, onde terroristas chechenos haviam feito reféns numa escola. Na ação, encerrada com uma desastrada operação de resgate, 344 civis - incluindo 186 crianças - morreram.
O jornal moscovita Novaya Gazeta, no qual a jornalista trabalhava, informou que Anna produzia uma nova reportagem sobre abusos na Chechênia. O diário oferece o equivalente a US$ 1 milhão por informações que levem ao assassino. A TV russa divulgou ontem imagens de uma câmera de segurança onde aparece o principal suspeito: um homem alto e magro, vestindo roupas escuras e boné.AP,