Título: Evo perde 'oxigênio político'
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2006, Internacional, p. A10

O governo Evo Morales atravessa seu pior momento. A opinião é de observadores locais, que vêem na 'guerra do estanho', que provocou a morte de 16 mineiros na semana passada, o auge de uma crise institucional que cresce nos últimos meses. Como reflexo da tragédia nas minas de estanho de Huanuni, o governo pode perder o apoio da Federação das Cooperativas Mineiras da Bolívia (Fecomin), importante aliada de Evo.

Na opinião do analista político Gonzalo Chávez, da Universidade Católica da Bolívia (UCB), a 'guerra do estanho' não terá o mesmo efeito da 'guerra do gás', de 2003, que culminou com a renúncia do então presidente da Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada. Mas Chávez reconhece que o governo perde 'oxigênio político'.

'Uma pesquisa recente mostra que a aprovação do governo está em 52%. Ainda há oxigênio para queimar, mas é fato que o apoio vem diminuindo.' Após o decreto de nacionalização em maio, por exemplo, 81% dos bolivianos apoiavam o governo.

Na terça-feira, os dirigentes da Fecomin discutirão se encerram o pacto político que fizeram com o Movimento Ao Socialismo (MAS) no início do governo. A federação representa 60 mil pessoas e é importante aliada de Evo. O rompimento é motivado pela demissão do ministro de Minas, Walter Villaroel - indicado pelos mineradores - na sexta, por incapacidade de evitar a tragédia em Huanuni.

Foi o segundo ministro a cair em apenas 10 meses de governo: no mês passado, o ministro dos Hidrocarbonetos renunciou após interferência do vice-presidente Álvaro García Linera em sua gestão. Com ele, foi demitido o presidente da estatal petroleira YPFB, Jorge Alvarado, suspeito de corrupção.

O ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, admitiu sábado que a semana será dura.

Além do embate com a Fecomin, os taxistas prometem parar La Paz a partir de hoje, em protesto contra a importação de milhares de carros para transporte público. Há ameaça de protestos da Central Obrera Boliviana, que reúne importantes sindicatos.

O governo ainda encontra dificuldades para tocar a Constituinte, pela falta de consenso com a oposição e a briga com a Suprema Corte - que declarou que a discussão deve considerar a Constituição atual, e não partir do zero, como quer o MAS. O tema petrolífero se arrasta e começa a gerar desconfiança e descontentamento entre a população.

As difíceis relações entre o governo e a imprensa boliviana ficaram mais tensas com a divulgação de uma 'lista negra' de jornalistas críticos ao governo. Rumores sobre conflitos armados e falta de sintonia entre Evo e seu vice completam o quadro.