Título: 'Petista é arrogante e desrespeita o eleitor'
Autor: Ana Paula Scinocca, Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2006, Nacional, p. A9

Na despedida da campanha em São Paulo, Estado que governou até abril e o credenciou para disputar a Presidência - além de ter sido o responsável por sua ida ao segundo turno -, o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é arrogante e desrespeita o eleitor quando fala como reeleito.

Alckmin voltou a acusar o adversário de mentir, de se aliar às oligarquias que historicamente criticou e de dar as mãos a personagens da ditadura militar. 'Ele está com o Sarney. Hoje o mentor do Lula é o Delfim Netto, o homem do AI-5 que disse que era pra cassar o Mário Covas. Como o Lula mudou', ironizou.

'O Lula dos pobres virou o do luxo e o do Aerolula. O Lula dos trabalhadores virou o homem dos banqueiros. O Lula do avanço virou o parceiro das oligarquias ', afirmou o candidato, no Vale do Anhangabaú.

Segundo o tucano, Lula é só arrogância. 'Ele é arrogante, vestiu um salto 15, desrespeitando o eleitor. A eleição é domingo. Como sempre, mentindo. É impressionante como não fica vermelho.'

Apesar de as pesquisas apontarem Lula como grande favorito, Alckmin reafirmou que acredita na sua vitória. 'Nós vamos chegar lá. A diferença é pequena e nós vamos tirar nesses quatro dias.'

Alckmin fez um discurso emocionado, de 13 minutos. Chegou a ficar com os olhos úmidos ao agradecer o empenho da família, citando a mulher, Lu, os filhos e as irmãs.

Ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele chamou o governo Lula de 'Código Penal ambulante'. 'Quero ser um instrumento de vocês para varrer essa praga que é a roubalheira', bradou.

Para uma platéia que, segundo a Polícia Militar, era de 8 mil pessoas - o PSDB esperava15 mil -, Alckmin, católico fervoroso, falou com esperança. 'Eu rogo a Deus para que a luz se acenda na consciência de cada cidadão, para reviver o sonho de Mário Covas, de uma política com ética, honra e mudança.'

TAPETE VOADOR

O ex-presidente FHC havia discursado antes. Em poucas palavras, foi duro com Lula, dizendo que perdeu o respeito pelo petista. Usou expressões como 'ladroagem' e 'gangue' para classificar o governo atual. 'Não jogaram sujeira para debaixo do tapete? É que o tapete deles é voador', provocou.

Assim como Alckmin, o ex-presidente também falou das atuais companhias do presidente Lula. Como se estivesse cara a cara com o seu sucessor, ainda cobrou explicações sobre a origem do R$ 1,75 milhão aprendido com petistas para a compra do dossiê Vedoin.

'Presidente Lula, tenha a hombridade de dizer quem fez o dossiê, tenha coragem e eu voltarei a respeitá-lo. Se não tiver a coragem ou a sinceridade, pode ganhar ou perder. Para mim, o senhor acabou. Foi enterrado nos escombros do seu governo. Não tem mais o que fazer', desafiou.

Também subiram no palco o governador eleito de São Paulo, José Serra, o atual governador, Cláudio Lembo (PFL), os presidentes nacionais do PSDB, Tasso Jereissati, do PFL, Jorge Bornhausen, e do PPS, Roberto Freire, além do candidato a vice de Alckmin, José Jorge (PFL-PE).

A escolha do Vale do Anhangabaú não foi aleatória. Um dos cartões postais de São Paulo, o local marcou, em 1989, o encerramento da campanha presidencial do governador tucano Mário Covas, morto em 2001. Covas foi o padrinho político de Alckmin.

A despedida de São Paulo foi em grande estilo. Nos prédios ao redor do Anhangabaú, foram projetados a laser o nome do candidato e o seu número. Fogos de artifício abriram e encerraram m o ato, que teve ainda chuva de papel picado.