Título: 'Nossa paciência tem limite', diz Bush
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2006, Nacional, p. A16
A duas semanas das eleições legislativas de meio de mandato nos EUA, o presidente George W. Bush disse ontem numa entrevista coletiva que, 'assim como o povo americano', ele também não está satisfeito com a situação no Iraque. Advertindo que a paciência dos EUA 'não é ilimitada' , ele afirmou que continuará pressionando os líderes iraquianos para que tomem 'medidas ousadas' para controlar a situação de segurança de seu país. Bush disse ainda que 'do mesmo modo que o inimigo muda suas táticas, os EUA também estão mudando sua estratégia', mas rejeitou toda possibilidade de uma saída rápida das tropas americanas que estão no Iraque. 'Nossas metas no Iraque são imutáveis, mas os métodos para alcançá-las são flexíveis', disse.
Questionado sobre a razão de ter convocado uma entrevista em meio à campanha eleitoral, na qual os eleitores se mostram cada vez mais dispostos a apoiar a oposição democrata, Bush foi enfático: 'Você me pergunta por que eu estou dando essas declarações hoje? Porque acho que devo ao povo americano uma explicação. O povo americano precisa saber que temos um plano para a vitória.'
'Devemos pensar que nossa vitória no Iraque é vital para a segurança dos americanos', disse Bush. 'Certamente, estamos vencendo', prosseguiu o presidente, listando o que considerou 'fatos encorajadores' no Iraque, como a captura do ditador deposto Saddam Hussein e a morte do líder da rede terrorista Al-Qaeda no Iraque, o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, neste ano.
Ele também mencionou 'fatos nada encorajadores', como o atentado à sede da ONU em Bagdá em 2004 - no qual morreu o brasileiro Sérgio Vieira de Mello -, a falta de sucesso nas operações de busca dos arsenais de Saddam e o alto número de soldados americanos mortos. Só neste mês, o mais violento em um ano, foram mais de 90 militares dos EUA mortos, elevando para quase 2.800 o número de baixas americanas desde o início do conflito.
ACUSAÇÃO
Ao defender as operações lideradas pelos americanos para dar mais segurança a Bagdá, Bush fez uma velada acusação às forças de segurança iraquianas, afirmando que o pouco êxito alcançado por elas esteve 'abaixo das expectativas'.
As medidas políticas e militares que se submeterão aos ajustes de estratégia dos EUA incluem a intensificação do treinamento das tropas iraquianas e o esforço para que se alcance uma solução política para a violência sectária. 'Temos de trabalhar com líderes políticos e religiosos para frear a violência sectária e buscar com os outros Estados árabes o apoio ao governo iraquiano para que ele consiga persuadir os insurgentes sunitas a depor armas', disse.
O presidente também disse que 'considerará cuidadosamente' as recomendações da comissão especial bipartidária liderada por James Baker - secretário de Estado de George Bush, o pai do atual presidente, que governou entre 1989 e 1993. A comissão, cujo relatório será divulgado após as eleições, deve recomendar a abertura de um diálogo com Irã e Síria no esforço para estabilizar o Iraque.
'Síria e Irã sabem muito bem o que esperamos deles', disse Bush. 'Com o Irã, temos muitas questões pendentes, e a primeira delas é se apoiarão ou não uma jovem democracia (no Iraque). Da Síria, esperamos que não prejudique o governo de (Fuad) Siniora no Líbano e não dê apoio a terroristas.'
Bush disse ainda que insistirá na via diplomática para resolver a crise nuclear com a Coréia do Norte.
'REFERENDO'
Bush afirmou ainda que as eleições servirão como um plebiscito para os americanos. 'A eleição será um referendo sobre estas duas questões: qual partido irá permitir que nossa economia continue crescendo e qual partido tem um plano para proteger o povo americano', disse o presidente.
Segundo Bush, tanto a segurança como os impostos são temas importantes. 'Se você elevar os impostos ou não prorrogar as isenções fiscais, o povo americano vai pagar mais', disse Bush.
Esta é a segunda vez em dois dias que Bush se refere à economia e menciona a suposta tendência dos democratas de aumentar os impostos. Na segunda-feira, Bush disse que os democratas são 'geneticamente predispostos' a elevar a carga tributária.
As incertezas sobre a estratégia do conflito no Iraque estão causando grandes prejuízos eleitorais para os republicanos. Por isso, analistas dizem que Bush quer desviar o foco da campanha eleitoral da guerra para a economia americana - que, apesar das seguidas previsões de desaceleração iminente, vem desafiando pessimistas.
O Índice Dow Jones, que mede o desempenho das ações das principais empresas americanas na Bolsa de Nova York, fechou em nível recorde na quinta-feira passada. O preço do barril do petróleo caiu 20% nos últimos dias e o desemprego está em 4,6%.
'Se eu fosse o presidente Bush, ficaria falando o tempo inteiro sobre a economia', diz Stephen Hess, pesquisador do Brookings Institution. Hess, porém, não acredita que as eleições sejam um referendo, como diz Bush. 'Neste momento, a guerra é um tema muito mais importante para os eleitores', diz.