Título: Fed mantém juro, mas inflação ainda preocupa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2006, Economia, p. B11

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve inalterada, em 5,25% ao ano, a taxa básica de juros no país. O encontro realizado ontem foi o terceiro consecutivo em que o BC dos Estados Unidos não mexeu nos chamados Fed funds. No comunicado divulgado após a reunião, o Fed disse que tem observado um desaquecimento da economia, mas advertiu que segue de perto a evolução dos índices de inflação.

A decisão teve 10 votos favoráveis e um contrário, dado pelo presidente do Fed de Richmond, Jeffrey M. Lacker. Assim nos últimos dois encontros, Lacker queria uma elevação de 0,25 ponto porcentual do juro.

Segundo um trecho do comunicado, 'o crescimento econômico desacelerou-se ao longo do ano, em parte refletindo o arrefecimento do mercado de moradia. Para o futuro, parece provável que a economia vá se expandir a um ritmo moderado'.

Em outra parte, os diretores do Comitê de Mercado Aberto afirmam que 'as leituras do núcleo da inflação têm sido elevadas, e o alto nível da utilização dos recursos tem o potencial para sustentar pressões inflacionárias. Contudo, parece provável que as pressões inflacionárias vão se moderar'.

Para Jack Ablin, presidente de investimentos do Harris Private Bank em Chicago, 'o quadro que recebo é de que o Fed realmente quer ver evidências de uma desaceleração da inflação antes de tomar qualquer decisão para reduzir as taxas'. 'Enquanto a economia e os preços da energia ajudam a frear uma eventual estocada da inflação, o Fed poderá observar de longe para ver provas concretas de que os índices de preços estão desacelerando antes de tomar medidas sobre os juros.'

Bulent Baygun, chefe de estratégias de renda fixa do Barclays Capital em Nova York, acredita que o comunicado não indicou, de forma alguma, que o Fed esteja preparando uma redução da taxa. 'O comunicado é muito similar aos anteriores. Enquanto não alterarem significativamente a linguagem, não há razão para uma mudança do panorama neste momento.'

Oscar Gonzalez, economista da John Hancock Financial em Boston, observou que o Fed 'pareceu preocupado com os riscos da inflação, pelo fato de que há um nível elevado de utilização de recursos'. 'Mas acredito que está dentro do esperado, uma vez que eles (os diretores)parecem estar prontos para mudar as taxas para cima ou para baixo, dependendo do tipo de dados que veremos no futuro.'

EMERGENTES

Na avaliação de Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Asset Management, a decisão do Fed favorece países emergentes como o Brasil. 'Aos olhos dos estrangeiros, não haver notícia é uma boa notícia', definiu. Para Fix, a manutenção dos juros, esperada pela maioria dos agentes de mercado, mantém o cenário positivo para a queda da taxa de juros no Brasil. Na sua opinião, o comunicado sinalizou que o Fed não subirá mais os juros nos EUA.

A próxima reunião do Fed, presidido por Ben Bernanke- a última de 2006 -, será realizada em 12 de dezembro.