Título: Presidente Lula foi tolerante com o crime, acusa Alckmin
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2006, Nacional, p. A8

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem em entrevista no Estado que no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva 'o País retrocedeu à idade da pedra sob o ponto de vista ético'. Para ele, Lula 'foi tolerante' com o crime e não impediu o surgimento de escândalos. As acusações foram feitas dentro da série de entrevistas Eleições 2006 no Estadão, em que o candidato tucano respondeu durante duas horas às perguntas de jornalistas do Grupo Estado. Alckmin disse que o dossiê Vedoin não é um fato isolado. 'As estatais foram privatizadas pelo PT. Vejam o nível de tolerância de Lula com o crime: ele disse que é grosseria. Não é grosseria. É crime.'

Às vésperas do segundo turno e com mais de 20 pontos porcentuais atrás do adversário nas intenções de voto, o candidato disse ainda que 'o PT e Lula tiveram a oportunidade de governar o País, mas a deixaram passar'. Para ele, 'o Brasil pode mais. Pode ter um governo, sob o ponto de vista ético, com valores; sob o ponto de vista da eficiência, com boa gestão; e, sob o ponto de vista de crescimento, com emprego e renda, que é o que interessa'.

Em outro momento acusou seu adversário de estar 'enganando o povo', porque 'as despesas já feitas levarão a um aumento da carga tributária de 1,2% do PIB'. Segundo ele, será inevitável no ano que vem o aumento do preço de alguns alimentos. 'Quero olhar na cara do povo antes e depois das eleições. Vamos ver como ele está enganando o povo, pois teremos um aumento no preço dos alimentos.'

A gestão do petista sofreu também duras críticas. Alckmin afirmou que o governo Lula 'investiu menos em educação, enquanto países como Coréia ou Chile investiram maciçamente'. Que a Saúde arrecadou R$ 30 bilhões no ano passado e nada repassou para Estados e municípios. Que o crescimento 'andou de lado, foi de apenas 2%, contra 5% no mundo'. Por fim, que a taxa de investimentos caiu 17%. 'Isso tudo no melhor cenário econômico dos últimos tempos, com a maior liquidez internacional.'

Em outro dos assuntos polêmicos do debate presidencial, as privatizações, ele não aceitou a avaliação de que lhe faltou firmeza para defender a causa. 'Privatizar não é um bem nem um mal em si próprio', comentou, acrescentando que 'novas privatizações não são prioridade', pois o que se precisa é atrair investimentos privados.

'DÁ PARA SABER'

No caso do dossiê Vedoin, ele acredita que 'dá para saber' a origem do R$ 1,75 milhão apreendido na mão de petistas dias antes do primeiro turno. 'Não é possível não saber como é que o dólar entrou no País. É óbvio que dá para saber de onde vem o dinheiro, é claro que dá para saber.' A certa altura, foi-lhe indagado se teria alguma pista sobre a origem desse dinheiro. 'Se eu tivesse, daria à polícia', respondeu.

Alckmin negou, em seguida, que tenha havido qualquer acordo entre ele e Lula para deixar de fora da campanha os assuntos familiares - mais especificamente, denúncias que envolvem o filho de Lula, Fábio Lula da Silva, e as críticas à mulher do tucano, Lu Alckmin, por ter aceito vestidos de um costureiro. 'Pelo contrário, sem acordo', garantiu o candidato. 'Acho até o contrário, que quem está mais próximo de uma figura pública deve tomar ainda mais cuidados.' Explicou, a propósito, que sua filha Sofia só trabalhou por pouco tempo na loja Daslu 'a convite de uma amiga' e saiu por causa das críticas. 'E minha mulher jamais teve função pública. Os vestidos que recebeu foram doados a entidades assistenciais que os leiloaram.'

Sobre a decisão de não comentar, durante sua campanha, as denúncias envolvendo o filho de Lula, justificou: 'Não abordo nada sobre o Lulinha porque não quero que achem que tenho coisas de natureza pessoal para discutir.' Em seguida porém, foi ao ataque: 'Mas sou contra governante que trai o povo.'

Ao listar as várias CPIs formadas no Congresso nos últimos três anos - a dos Correios, a dos Bingos e a dos Sanguessugas - o tucano relembrou o mensalão, que em sua opinião consistiu 'em subjugar um Poder com outro Poder'. Em seguida, disse que as estatais foram 'privatizadas pelo partido do governo' e daí surgiram escândalos como o da GTech na Caixa Econômica Federal, o da Casa da Moeda, e a violação do sigilo do caseiro Francenildo Costa, que custou o cargo ao ministro da Fazenda Antonio Palocci. Acrescentou à lista outra denúncia sobre superfaturamento de R$ 100 milhões em obras da Infraero no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. 'É impressionante a capacidade de mentir, de não dizer a verdade, de falsear a verdade, de enganar as pessoas', concluiu.

'EFEITO DESMOBILIZADOR'

Ele deu uma explicação curiosa para o fato de estar bem atrás de Lula nas intenções de voto. Admitiu que 'o PSDB é fraco em muitos Estados'. E comentou: 'Como ganhei no Acre? Nem eu sei.' Mas disse esperar no domingo uma votação maior do que apontam as pesquisas. 'A diferença é de um dígito e ainda há como mudar.' Lembrou que 'viradas em eleições sempre ocorrem', citando como exemplo a eleição para governador de São Paulo em 2002. Admitiu, no entanto, que a pesquisa 'tem um forte papel desmobilizador'. O mediador da entrevista foi Roberto Godoy e as perguntas foram feitas por Celso Ming, Josué Leonel, José Nêumanne, Ana Paula Scinocca e Luiz Motta, todos do Grupo Estado.