Título: EUA: 57% rejeitam sacrifício por Iraque
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2006, Internacional, p. A19
No dia em que o Exército divulgou a morte de mais cinco soldados EUA no Iraque, a pesquisa mensal Reuters/Zogby mostrou ontem que, para 57% dos americanos, não vale mais a pena perder vidas no conflito iraquiano. Quatro marines e um oficial da Marinha morreram na Província de Anbar, berço da insurgência sunita e uma das regiões onde mais morrem soldados americanos. Com isso, chega a 96 o número de militares americanos mortos em outubro, o pior mês para as tropas dos EUA em um ano.
A pesquisa aponta também uma clara preferência dos eleitores pelos democratas na eleição legislativa do dia 7: 44% das intenções de voto, diante de 33% para os republicanos. Na última pesquisa, de 28 de setembro, os democratas tinham 42%. Os republicanos não têm voto garantido nem entre os que se declaram conservadores: apenas 56% deles vão apoiar candidatos do Partido Republicano. Entre os eleitores do Partido Democrata, 81% pretendem apoiar candidatos democratas.
A rejeição dos eleitores americanos à presença dos EUA no Iraque é tanta que muitos candidatos republicanos evitam associar sua imagem à do presidente George W. Bush e a sua estratégia na guerra. Nem as declarações de Bush da véspera, na qual manifestou ¿insatisfação¿ com o atual estágio da guerra, mudaram o quadro. Muitos candidatos republicanos se apresentam como independentes.
A segurança nacional, um trunfo republicano desde os atentados de 11 de setembro de 2001, tornou-se a principal arma dos democratas. Os republicanos passaram mais de três anos criticando a falta de firmeza dos democratas, afirmando que eles queriam ¿sair correndo do Iraque¿. Agora, é a viabilidade da estratégia de Bush que está sendo questionada. Segundo a pesquisa, 57% dos americanos acreditam que os EUA estão no caminho errado. Cerca de 50% dos eleitores acham que os EUA deveriam retirar as tropas do Iraque até o fim do ano que vem, enquanto 15% querem uma retirada imediata.
O líder da maioria republicana no Senado, Bill Frist, afirmou nesta semana que os candidatos do partido devem evitar falar sobre a guerra e desviar o foco da campanha para as questões econômicas, em vez do terrorismo e da guerra no Iraque.
Bush lançou-se recentemente numa campanha para minimizar os estragos eleitorais da guerra no Iraque. Mudou seu discurso de ¿manter o rumo¿, que passava a idéia de teimosia, e passou a falar em flexibilidade.
Já a primeira-dama Laura Bush se transformou em amuleto de muitos candidatos e participa ativamente da campanha. Ao contrário de Bush, cuja aprovação está em 36%, de acordo com a Zogby/Reuters (caindo dos 42% que tinha na última pesquisa), a primeira-dama tem o apoio de 68% dos americanos, segundo pesquisa da CNN.
Os republicanos ainda enfrentam problemas no próprio quintal. Um livro recém-publicado por David Kuo, ex-assessor de Bush para questões religiosas, acusa o governo de ter usado politicamente os evangélicos, sem jamais encampar a agenda da direita cristã. No livro Fé Tentadora, Kuo diz que membros do governo fizeram piadas sobre as propostas evangélicas. Os cristãos são parte essencial do arco de apoio a Bush.
Também ontem, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, declarou que o Iraque estaria pronto para assumir a segurança do país em seis meses. Na segunda-feira, as autoridades americanas no Iraque disseram que entre 12 e 18 meses poderiam entregar o controle da segurança às forças iraquianas.