Título: Taxa de desmatamento cai 30%
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2006, Vida&, p. A24
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem em Brasília que o desmatamento na Amazônia caiu 30% entre agosto de 2005 e de 2006. A estimativa é de 13.100 quilômetros quadrados de derrubada. É o segundo ano consecutivo com esta taxa de queda.
O número consolidado é prometido para dezembro. Se for confirmado, será a menor taxa de desmatamento desde 1991.
O dado foi apresentado três dias antes do segundo turno da eleição presidencial e com a menor amostragem dos últimos anos. Ele se baseia em apenas 34 cenas captadas por satélites de áreas pressionadas pelas motosserras (enquanto são necessárias mais de 200 para cobrir toda a região), onde aconteceu 67% do desmatamento no período anterior.
A prática é prevista na metodologia usada pelo governo. Porém, é a menor amostragem dos últimos anos para prever estimativas. No período 2004/ 2005, foram usadas 77 cenas, correspondentes a 87% da derrubada no ano anterior. Em 2003/2004, foram 103 cenas; em 2002/2003 foram 75; em 2001/2002, 50 cenas, assim como em 2000/2001.
'Um número maior de imagens dá mais segurança. Esta forma é válida porque podemos ter uma idéia da tendência do desmatamento, mas não dá para comparar com outras taxas', diz o especialista em sensoriamento remoto Carlos Souza Júnior, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Ele aponta a falta de áreas críticas nesta amostra, como o entorno da BR-319, entre Manaus e Porto Velho, a Transamazônica e o noroeste de Mato Grosso, regiões com taxas elevadas e recentes de desmatamento.
'Este número (13 mil km2) deve ser considerado como área mínima', afirma Souza. O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, responsável pelos dados, diz que a margem de erro para o número real é de 10%.
Outro indicativo da pressa que envolveu a equipe para apresentar a estimativa foi a falta de análises de desmatamento por Estados amazônicos e cidades, como taxas de aumento e queda, normalmente apresentadas neste mesmo evento.
Segundo o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, a apresentação da estimativa feita em cima de poucas imagens deve-se à proximidade da 12ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro de Mudanças Climáticas da ONU (COP-12), que começa no dia 6 no Quênia.
O desmatamento é a principal fonte brasileira de emissão de gases do efeito estufa, que coloca o País entre os cinco maiores emissores do mundo. Na reunião, o governo brasileiro apresentará a proposta de criação de um fundo internacional que estimule países em desenvolvimento a manterem as florestas em pé.
REPRESSÃO OU SOJA?
O anúncio foi feito em clima de comemoração por Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Segundo eles, a queda valida a política de repressão conduzida na Amazônia desde 2003 e a eficiência do uso de áreas protegidas como estratégia de ordenação fundiária. 'A primeira parte do plano, de comando e controle, já foi feita. Agora vamos partir para a segunda parte, de ações estruturantes', afirmou a ministra.
Para Lula, o Brasil assim demonstra a possibilidade de um crescimento ordenado, com desmatamento em locais permitidos e inserção de 'empresas menos poluentes em regiões sensíveis' da região. 'A Amazônia é brasileira e não abriremos mão dela.'
O advogado André Lima, do Instituto Socioambiental, e Mauro Armelin, coordenador de Políticas públicas do WWF-Brasil, acham que a tendência de queda de desmatamento se confirma. Mas pedem que agora o governo se preocupe em classificar o impacto de cada fator no desmatamento, como anúncio de grandes obras, o preço da soja no mercado internacional (em baixa nos últimos dois anos) e as ações de comando e controle defendidas pela ministra.