Título: Ata do Copom mantém expectativa de mais um corte da taxa de juros
Autor: Adriana Fernandes, Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/10/2006, Economia, p. B4

As incertezas quanto ao impacto na economia da redução das taxas de juros nos últimos 13 meses levaram os diretores do Banco Central a analisar a possibilidade de um corte menor da Selic, na reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom). O colegiado, no entanto, optou por 0,5 ponto porcentual, fixando a Selic em 13,75% ao ano, por entender que essa taxa ainda preservava um cenário favorável ao comportamento da inflação. Embora a ata da reunião, divulgada ontem, tenha mantido o alerta de que o Copom atuará 'com maior parcimônia', a expectativa é que haverá nova redução na última reunião do ano, em novembro, com as apostas divididas entre 0,25 e 0,50 ponto.

Os diretores do BC estão diante de dois fatores objetivos para a definição da Selic no próximo encontro: a preocupação quanto à imprecisão de se medir o impacto da redução dos juros na atividade econômica e o fato de que, muito provavelmente, uma nova queda da Selic poderá oficializar juros reais de apenas um dígito, rompendo a barreira dos 9% ao ano, considerando-se o comportamento da inflação medida pelo IPCA dos últimos 12 meses.

Para o mercado financeiro, os juros reais já estão próximos desse patamar, abaixo do qual haveria risco de a inflação voltar a subir. Nos cálculos do mercado, a taxa real está atualmente em torno de 10%, considerando o IPCA acumulado nos 12 meses até setembro. Se o fator de referência for o IPCA dos próximos 12 meses, o juro real está em 9,7%. Mas, se a base de comparação for a variação dos contratos de swap, a taxa real já é de 8,4% ao ano.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, considera que o Copom será mais cauteloso na próxima reunião, ante a proximidade dos juros reais de um nível inferior a 10%. Ele considera também preocupante as dúvidas quanto ao impacto da redução de 6 pontos porcentuais na Selic, promovida desde setembro do ano passado, na atividade econômica.

Vale lembra, por exemplo, que, além do efeito da redução dos juros, a economia também foi estimulada com o aumento do salário mínimo e dos gastos do governo. 'Apesar de haver espaço para um novo corte de 0,50 ponto porcentual, a sinalização dada é de que a taxa cairá apenas 0,25 ponto porcentual em novembro.'

A mensagem conservadora foi contrabalançada, na ata, pela informação de que o BC trabalha com a hipótese 'plausível' de reajuste zero da gasolina neste ano, por causa da queda do preço do petróleo no mercado internacional.

'Outra fonte sistemática de incerteza advinda do cenário internacional, o preço do petróleo, também parece ter se reduzido. Apesar de ainda se manter em níveis nominais historicamente elevados, houve recuo importante das cotações desde a última reunião do Copom', ressaltou o documento.

Sem a pressão dos combustíveis, a projeção do Copom para a alta dos preços administrados neste ano permaneceu em 4,4%. 'Para nós, esta é uma sinalização de que a taxa poderá cair mais 0,5 ponto porcentual em novembro', disse Marcela Prada, economista da consultoria Tendências.

Outra notícia positiva contida na ata foi a redução da projeção do Copom para o reajuste dos preços administrados em 2007, de 6,1% para 5,4%. 'A queda tem impacto de 0,20% sobre a inflação do próximo ano', disse o diretor do Banco Modal Alexandre Póvoa. Por causa disso, o Copom reduziu a estimativa para o IPCA do próximo ano, que estava em 4,3% no Relatório de Inflação divulgado no fim de setembro. A ata, porém, não revelou qual é a nova projeção.

Para Póvoa, a estimativa do Copom para os preços administrados em 2007 poderá cair ainda mais nas próximas reuniões. 'A projeção da ata ainda é maior que as estimativas de 4,40% do mercado', disse. Se isso ocorrer, a expectativa do Copom para a inflação em 2007 recuará ainda mais e abrirá espaço para a redução dos juros. 'É possível que tenhamos juros nominais de 12% ao ano já no terceiro trimestre de 2007. Isso representaria uma taxa real entre 7,5% e 8%. Para cair mais que isso, precisaremos das reformas econômicas', disse Póvoa.

Pelo lado da atividade econômica, a ata voltou a afirmar que não há risco de descasamento entre o crescimento da demanda e produção. E indicou ainda que, em setembro, a produção industrial poderá cair em relação a agosto.

DESTAQUES DA ATA

PARCIMÔNIA: A preservação das conquistas obtidas no combate à inflação e na manutenção do crescimento econômico poderá exigir que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida 'com maior parcimônia'.

REDUÇÃO MENOR: Na última reunião, o Copom voltou a avaliar a conveniência de reduzir a taxa Selic em apenas 0,25 ponto porcentual. Mas o comitê concluiu, por unanimidade, que a redução de 0,50 ponto - como acabou ocorrendo -seria mais adequado ao melhor cenário da inflação.

GASOLINA: Continua grande a incerteza sobre os preços do petróleo, mas o Copom prevê que se tornou 'mais plausível' acreditar que será mantida até o fim de 2006 a estabilidade nos preços doméstico da gasolina.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL: Os indicadores sinalizam que a produção industrial de setembro será menor que a de agosto. Essa queda em grande parte reflete paralisações ocorridas em algumas montadoras de veículos.

INVESTIMENTOS: Dados recentes relativos à produção e à absorção de bens de capital sugerem que o crescimento dos investimentos continua 'robusto'.

CENÁRIO BENIGNO: Em que pese a aceleração do IPCA em setembro, continua se consolidando um cenário benigno para a inflação, que deve continuar dentro da trajetória das metas.