Título: Cresce consumo de alimento funcional
Autor: Tatiana Fávaro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2006, Vida&, p. A19

Levantamento feito pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) aponta um crescimento de 20% por ano no consumo de alimentos funcionais no Brasil nos últimos cinco anos. Alimentos funcionais são aqueles que, além de saciar a fome, ainda têm uma ou mais substâncias com funções bioquímicas e fisiológicas benéficas à saúde.

O coordenador do Departamento de Economia da associação, Denis Ribeiro, estima que esse mercado movimentou cerca de US$ 600 milhões em 2005 no País. Segundo a pesquisadora Gláucia Pastore, diretora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, a mudança de comportamento é silenciosa e seu motivo é o acesso à informação, maior desde 2000. ¿A tendência é internacional. O comportamento muda à medida que o consumidor sabe mais sobre a relação entre o que come e sua saúde¿, diz Gláucia.

Pesquisas nacionais e internacionais mostram que alimentos considerados funcionais têm elementos capazes de ajudar e melhorar as funções de órgãos e vísceras. Soja, chás orientais, feijão, morango, manga, abóbora, tomate, cenoura, beterraba, brócolis e óleos vegetais são alguns dos alimentos da lista.

Entre os benefícios apontados por pesquisadores estão a diminuição do colesterol e do risco de trombose, redução de pressão sanguínea, melhor funcionamento do intestino, efeitos antiinflamatórios e antibacterianos.

A nutricionista Janilene Pescuma, do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, disse ser positivo o uso de alimentos funcionais nas dietas. Ela afirmou, entretanto, que as pesquisas brasileiras ainda precisam avançar para que possam ser medidas as quantidades ideais desses alimentos para cada caso ou função.

¿Não temos parâmetro para saber como esses alimentos interferem, mas cresce a introdução deles nas dietas alimentares. Menos para tratamentos clínicos e mais para prevenção, mas é uma tendência.¿

IMPORTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO Durante o 20º Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos, realizado no início do mês em Curitiba (PR), Janilene chamou a atenção para essa provável expansão do consumo de funcionais no Brasil, principalmente cereais e iogurtes.

Atualmente, 80% dos alimentos funcionais consumidos no País vêm de outros países. ¿A mudança na gôndola do supermercado ainda é tímida, porque as empresas às vezes não conseguem atender às exigências do órgão fiscalizador para comprovar os benefícios de seu produto.¿ Antes de ser liberado para a venda e consumo, todo produto precisa ser registrado no Ministério da Saúde. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), caso o produto seja comercializado e não comprove sua eficácia e propriedades, a empresa que o distribui pode pagar multa de até R$ 1,5 milhão e ser fechada.

LONGO CAMINHO Dona de um restaurante em Campinas há mais de uma década, somente há 2 anos Iná de Castro Sabioni, de 63, incluiu soja e derivados no cardápio. ¿Achava difícil e demorado preparar o grão. Também não havia receitas. Hoje há muito mais informação sobre os benefícios e sobre como fazer¿, disse.

O empresário Franz Salces investiu há mais tempo na combinação de conveniência e saúde e, desde 2000, estuda maneiras de produzir alimentos funcionais instantâneos. Diretor da Green Technologies, instalada na incubadora de empresas da Unicamp, já conseguiu vender para uma indústria do setor alimentício tecnologia para produção de feijão e soja integrais e instantâneos.

A Green Technologies não vende produtos, transfere tecnologia. E tem estudado novas linhas, como o arroz integral e instantâneo e snacks nutritivos. ¿Os produtos de conveniência encontrados no supermercado têm muitos macronutrientes como carboidratos e proteínas, mas têm poucos micronutrientes, devido aos tratamentos térmicos severos pelos quais passam¿, explica Salces.

(SERVIÇO)Cereais, grãos com casca, frutas, hortaliças, legumes: Fibras ajudam no funcionamento do intestino

Soja e derivados: Rica em isoflavonas, reduz níveis de colesterol e diminui sintoma da menopausa

Iogurtes e leites fermentados: pré-bióticos, favorecem o crescimento de bactérias benéficas ao funcionamento do intestino

Peixes marinhos: Têm ácido graxo Ômega 3, que reduz os níveis de colesterol

Cenoura, beterraba, mamão, manga, couve, espinafre: Ricos em betacaroteno, importante antioxidante

Tomate, goiaba, melancia: Têm licopeno, que, acredita-se, protege contra o câncer de próstata

Margarinas e óleos vegetais: Têm fitosteróis, que inibem a produção de colesterol ruim (LDL), sem alterar os níveis do bom (HDL)