Título: PT e PSDB descartam 3º turno
Autor: Marcelo de Moraes e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2006, Especial, p. H11
Dirigentes nacionais de PSDB e PT descartam a possibilidade de haver uma espécie de terceiro turno eleitoral, com o partido derrotado na disputa presidencial tentando invalidar a legitimidade da vitória do adversário. Mas isso não significa o fim da tensão entre governo e oposição. Pelo contrário. Os dois partidos já sabem que a primeira batalha pós-eleitoral tem dia e lugar para ocorrer. Será dia 7 de novembro, dentro da CPI dos Sanguessugas.
Os tucanos não aceitam a decisão da CPI que marcou para esse dia depoimentos do governador eleito de São Paulo, José Serra, e do prefeito de Piracicaba, Barjas Negri, para falar sobre supostas irregularidades ocorridas no Ministério da Saúde durante suas gestões. As acusações foram feitas pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, principal envolvido no escândalo da máfia das ambulâncias. As denúncias acabaram recheando o dossiê comprado por integrantes do PT para tentar atrapalhar a candidatura de Serra ao governo e favorecer seu principal adversário, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
O PSDB vê na convocação um movimento político do PT contra Serra, justamente um dos principais nomes dos tucanos para eleição presidencial de 2010. Acham que o depoimento é irrelevante para as investigações da CPI, alegando que o governador eleito só foi citado por Vedoin numa fraude montada pelo empresário. Assim, os tucanos pretendem reagir duramente, garantindo que só admitem a ida de Serra à CPI se o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Mercadante forem convocados também para explicar a compra do dossiê.
'O PSDB só aceita a ida de Serra e de Barjas nesses termos. Lula tem que ir na CPI explicar o envolvimento de seus aliados políticos nesse escândalo. A mesma coisa tem que ocorrer com o senador Mercadante. Do contrário, nada feito. Porque Serra e Barjas estão sendo chamados com base em acusações fraudulentas. Diferente do que ocorre no caso dos integrantes do PT', argumenta o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), relator da subcomissão de investigação do Poder Executivo na CPI dos Sanguessugas.
Depois de uma campanha marcada por troca de acusações muito duras, tendo justamente os desdobramentos do escândalo da máfia das ambulâncias como principal combustível, os dois partidos têm motivos de sobra para transformar as sessões da CPI numa espécie de arena de vale tudo. Mas petistas e tucanos reconhecem que esse tipo de confronto provocará imensas discussões, mas não vai descambar para uma tentativa de abrir processo de impeachment contra Lula, caso ele confirme seu favoritismo e seja reeleito.
'A oposição de extrema direita conservadora é pequena. Essa radicalização é artificial e qualquer tentativa de um terceiro turno será vista como golpe', afirma o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. 'Quem quer fazer o terceiro turno é o movimento dos sem-voto', diz o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.
De fato, depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu declarações na semana passada descartando o terceiro turno, os integrantes do PSDB já endossam esse coro. 'Acho pouco provável que alguém faça realmente força em torno desse objetivo. A não ser que alguma investigação aponte novidades contra Lula, não acredito que haja essa história de terceiro turno', avalia o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ), integrante da CPI dos Correios e candidato derrotado ao governo do Rio de Janeiro.
Esse tipo de reação, entretanto, não significa que os partidos de oposição pretendem abandonar a pressão pelas investigações sobre irregularidades envolvendo o PT e Lula. 'Se Lula for reeleito, não quer dizer que vai se passar esponja em cima de tudo o que foi feito de errado pelos petistas e pelo governo', afirma o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio (AM).
Mesmo assim, do lado governista existe interesse pela retomada do relacionamento. 'Terminada a eleição, teremos de buscar consensos', diz o deputado federal José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). 'É importante para o País um grande pacto pela governabilidade e desenvolvimento. É importante que não exista espírito infantil de revanchismo e que a disputa ceda espaço ao que é melhor para o País. Cabe aos dois lados conter os seus radicais', diz.