Título: Acelerar o crescimento é o desafio do próximo mandato
Autor: Leandro Modé
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/10/2006, Economia, p. B4

O cenário positivo vivido pelo Brasil não significa que o próximo governo terá menos trabalho. A principal diferença em relação às eleições anteriores é que, em vez de debelar crises, sua principal tarefa agora será evitá-las. Mais ainda terá de aproveitar a bonança para promover maior crescimento. Nos últimos 12 anos, a média de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 2,4%, bem abaixo da média mundial.

O primeiro passo, segundo especialistas, terá de ser na área fiscal. Economistas chamam a atenção para a deterioração das contas públicas . ¿Esse é o grande desafio para melhorar ainda mais as condições do País¿, observa Sergio Werlang, ex-diretor do Banco Central (BC) e atual diretor-executivo do Banco Itaú.

Ele se mostra especialmente preocupado com o fato de o governo Lula ter contratado despesas correntes de US$ 30 bilhões entre 2005 e 2006, que terão impacto nas contas públicas nos próximos anos. Além disso, Werlang lembra que parte do superávit primário foi obtida com receitas extraordinárias. Para ele, essa piora pode ser revertida. ¿Se nos comprometermos com a austeridade fiscal no médio e longo prazos, poderemos atingir o grau de investimento em 2008 ou até antes, no fim de 2007.¿ Grau de investimento é uma nota concedida pelas agências de classificação de risco de crédito a países e empresas que tenham baixa chance de calote.

A receita que o ex-diretor do BC recomenda é a manutenção do superávit primário de 4,25% por um período de mais 5 ou 7 anos. ¿Com isso, a relação dívida/PIB poderia ir para algo entre 30% e 35%.¿ Em setembro, esse indicador estava em 50,1%. Para André Lóes, economista-chefe do Banco Santander Banespa, o panorama é claramente menos dramático que o do início dos governos anteriores, mas, em compensação, mais complexo. ¿Antes não havia saída¿, observa. ¿Ou os presidentes faziam o que deveria ser feito ou o País quebrava¿.

Hoje, diz ele, as escolhas podem ser feitas com tranqüilidade. Isso significa que a responsabilidade do presidente sobre o desempenho da economia será maior. ¿Se não fizer nada, o Brasil continuará crescendo de forma medíocre.¿

REFORMAS Assim como Werlang, o economista do Santander Banespa entende que o grande nó que o próximo governo deverá desatar é o fiscal que, na sua avaliação, emperra a expansão. Por isso, defende mudanças nas despesas e reformas estruturais, com destaque para a previdenciária. Dessa forma, argumenta, seria possível reduzir a carga tributária e estimular o investimento.

Outra medida, para Lóes, seria a regulamentação das parcerias público privadas (PPPs), que também teriam impacto sobre o investimento.

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (BC), acredita que ¿a falta de necessidade de apagar incêndios pode levar à inércia¿. A exemplo de seus colegas, ele avalia que o foco do governo deve ser o crescimento econômico. ¿É preciso melhorar a parte fiscal e implementar reformas constitucionais e microeconômicas.¿ L.M.