Título: 'Presidente comprou governador de MT'
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2006, Nacional, p. A6

O vice-governador eleito de São Paulo, Alberto Goldman, que, ao lado do governador eleito José Serra, comanda uma onda de mobilização no Estado para ampliar a votação do tucano Geraldo Alckmin, diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é o representante dos pobres, mas das 'elites empresariais que mais lucraram' à custa daquela parcela do povo. Em entrevista ao Estado, Goldman acusa Lula de falta de escrúpulos na reta final de campanha. ' Ele compra um governador de Mato Grosso (Blairo Maggi, do PPS) através de financiamento a produtores rurais a duas semanas da eleição, introduz quase 3 milhões de famílias no Bolsa-Família a 90 dias da eleição... Ele não tem promessas, são pura mentira, enganação, mistificação.' Para Goldman, a vitória de Alckmin depende de tranqüilidade e sangue frio.

A duas semanas da eleição, o candidato Geraldo Alckmin, embora tenha adotado um discurso mais ofensivo, ainda não conseguiu melhorar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto. A estratégia está equivocada?

Não. É a única possível. Temos de cobrá-los das coisas erradas e fazer com que isso chegue à população menos esclarecida, que é onde Lula ganha de forma avassaladora. A estratégia está correta: é cobrar e tentar fazer com que ele também perca votos entre a parcela da população economicamente ativa mais esclarecida. É o que fizemos no primeiro turno. Não diz o ditado 'água mole em pedra dura tanto bate até que fura'? Tem de ficar tranqüilo e ter sangue frio. Ao contrário do que diz, Lula é o candidato do voto conservador, daquele que não quer arriscar perder o Bolsa-Família.

Alckmin deve manter o tom mais agressivo?

O Geraldo tem de fazer exatamente como vem fazendo: apresentar pontos essenciais do programa de governo e não deixar de levantar questões que são preliminares, como a ética. Nenhum governo pode justificar uma ação administrativa se não estiver apoiado numa conduta ética acima de qualquer suspeita.

O sr. quer dizer que, numa eventual vitória de Lula, ele não conseguirá governar?

Acho que não há dúvida de que não se pode comparar uma eleição há quatro anos, quando ele tinha absoluta respeitabilidade, inclusive da oposição, com a situação atual. É indiscutível que, se ele for eleito - e eu espero que não -, ele começaria um mandato de forma extremamente debilitada. Acho que ele tem uma mácula fundamental nesse governo. Foi responsável por uma série de operações irregulares, ilegais e criminosas. Portanto, não teria credibilidade e respeitabilidade necessárias para começar um novo governo.

Qual a postura do PSDB num eventual segundo mandato de Lula?

Prefiro não discutir isso. Prefiro dizer que essa situação que se criou os levará a serem oposição. O que temos de fazer agora é cobrar respostas para todos os erros do governo, destacar o conjunto de mentiras que ele informa à população todos os dias. É um cidadão que não tem vergonha de mentir descaradamente. Isso não pode criar nenhuma condição de um relacionamento político saudável entre nós.

A que o sr. atribui a ausência de Lula no próximo debate?

Ele escolhe sempre as coisas que lhe convêm. No primeiro turno ele disse, de forma provocativa, que a onça ia beber água. Não sei que água a onça bebeu, talvez aquela que passarinho não bebe. Ele age sempre de forma provocativa. Alguém que é o presidente da República e candidato à reeleição e usa sem escrúpulos o poder não pode ter a respeitabilidade . Ele compra um governador de Mato Grosso através de financiamento a produtores rurais a duas semanas da eleição, introduz quase 3 milhões de famílias no Bolsa-Família a 90 dias da eleição... Não tem promessas, são pura mentira, enganação, mistificação.

Ele diz que o País está dividido e ele representa os pobres.

Ele é o candidato das elites empresariais que mais ganharam nestes quatro anos. É o candidato das elites sindicais que deixam os sindicatos para ocupar cargos públicos, da elite da burocracia estatal. O fato de dar bolsa com recursos públicos não o torna o candidato dos pobres. Não nos vangloriamos de botar 1 milhão de famílias no Bolsa-Família, mas vamos nos vangloriar no dia em que tirarmos 1 milhão e dermos emprego a elas.

Completou um mês a investigação do caso do dossiê Vedoin. Uma resposta sobre a origem do dinheiro apreendido com petistas vem antes da eleição?

Pelo jeito eles não estão querendo que venha antes das eleições. Mais grave será se essa resposta vier depois e mostrar algum tipo de envolvimento dele ou das pessoas próximas. Vamos ter uma crise institucional. O povo tem de saber antes para não ser enganado.