Título: Venezuela disputa hoje com Guatemala vaga no Conselho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2006, Internacional, p. A10

A Assembléia-Geral da ONU renovará hoje, em votação, cinco das dez cadeiras não-permanentes do Conselho de Segurança. A principal disputa envolve a Venezuela e a Guatemala, que concorrem para substituir a Argentina numa das cadeiras reservadas à América Latina.

A votação será um teste para a influência internacional do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que aproveita a receita do petróleo para oferecer programas de ajuda a vários países a fim conquistar votos e fazer frente à Guatemala, cuja candidatura é apoiada pelos EUA.

Chávez, acusado pela oposição de excesso de generosidade, diz que seus programas são uma ajuda modesta a nações que, segundo ele, sofrem com o domínio americano. Ontem ele voltou à carga contra os EUA, acusando-os de promover uma 'guerra suja' para evitar a entrada da Venezuela no Conselho. 'Há um combate corpo-a-corpo (por votos) nos corredores da ONU', acrescentou.

Desde 2005, a Venezuela já ofereceu pelo menos US$ 1,1 bilhão à América Latina e ao Caribe, na forma de empréstimos, doações e ajuda financeira. Os EUA, cuja economia é nove vezes maior que a venezuelana, reservaram US$ 3,3 bilhões para a ajuda financeira e de desenvolvimento à região em 2005 e 2006, segundo o Departamento de Estado. Outras estimativas falam em US$ 4 bilhões.

Os programas de Chávez incluem US$ 20 milhões para a modernização do Hospital das Clínicas do Uruguai; US$ 260 milhões para a repavimentação de uma estrada na Jamaica; e US$ 17 milhões para obras nos aeroportos das ilhas caribenhas de Antígua e Dominica. O chanceler de Dominica, Charles Savarin, admitiu que a ajuda 'não pode passar despercebida' como um fator na decisão de seu país de apoiar a candidatura venezuelana. O Uruguai também manifestou apoio.

A generosidade de Chávez - que se estende também a países africanos - é atacada por seu principal rival na eleição presidencial de 3 de dezembro na Venezuela, Manuel Rosales, que afirma que os venezuelanos pobres precisam do dinheiro. Chávez responde citando programas públicos de educação, saúde e alimentação subsidiados.

Tanto a Venezuela quanto a Guatemala dizem contar com apoio majoritário entre os 192 membros da Assembléia-Geral. Estima-se que a Venezuela terá a maioria dos votos, mas não os dois terços necessários para vencer a eleição. Se a marca não for alcançada após repetidas votações, o grupo latino-americano, de 33 países, poderá optar por apresentar outro candidato. Os membros não são obrigados a revelar seu voto, mas grande parte do Caribe e da América do Sul manifestou apoio à Venezuela. A Guatemala conta com o apoio da Colômbia e aparentemente da maior parte da América Central e da Europa. Espera-se que a Venezuela predomine entre as 53 nações do grupo africano, enquanto os 54 asiáticos estão divididos.

Dez das 15 cadeiras do Conselho de Segurança são ocupadas pelos grupos regionais por períodos de dois anos. A cada ano, metade é renovada. As outras cinco cadeiras pertencem aos membros permanentes, com poder de veto: Grã-Bretanha, China, França, Rússia e EUA.

Outra disputa envolve a Indonésia e o Nepal, que concorrem à cadeira hoje ocupada pelo Japão. Para os outros três assentos a se renovados hoje, há consenso: Itália e Bélgica substituirão Dinamarca e Grécia, e a África do Sul tomará o lugar da Tanzânia.