Título: Crise internacional gerou instabilidade após a posse e dificultou gestão tucana
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2006, Nacional, p. A6

Fernando Henrique Cardoso teve o primeiro governo entrecortado por crises internacionais. Dez dias antes de sua posse, em dezembro de 1994, pipocou a do México; a eleição de 1998 foi demarcada por duas crises brutais. Em outubro de 1997 explodiu a da Ásia. Sete meses depois, com o estrago quase consertado, FHC ainda tinha o prestígio abalado por suas repercussões daninhas na economia.

Em maio, suas intenções de voto caíram de 41% para 34%, enquanto as do candidato Lula subiram de 24% para 30%. Na primeira semana de junho, a diferença entre eles se estreitou mais - 33% a 30% para FHC. Agora, por razões bem diferentes, Lula começou a perder prestígio 16 meses antes da eleição, em meados de 2005. Teve, pois, muito tempo para se aprumar.

Em 1998, FHC começou a recuperar a imagem em julho, 3 meses antes da eleição, quando suas intenções de voto subiram para 40% e as de Lula caíram para 28%. Em agosto eclodiu a crise da Rússia, cujos efeitos só chegariam ao Brasil - para sorte de FHC e azar de Lula - bem depois das eleições que o tucano ganhara no primeiro turno.

Agora, de início, Lula teve calendário bem mais confortável. Em dezembro de 2005, ele perdia para José Serra nas pesquisas por 37% a 31%. Serra era então seu mais provável opositor e o mais bem colocado nas pesquisas. Em janeiro de 2006, nove meses antes das eleições, começou sua recuperação. No início do ano, dobrou a publicidade oficial, aproveitando o verão, que desmobiliza iras populares. Em março, já tonificado, Lula virou o jogo contra Serra - 38% a 29%. Daí para a frente, e com Geraldo Alckmin como candidato, só cresceria nas pesquisas.

Em 1998, um mês antes das eleições, FHC já vencia Lula por 48% a 26% e tinha a vitória virtualmente assegurada, enquanto nos subterrâneos da economia a crise russa solapava as reservas brasileiras. Tudo explodiria em janeiro de 1999, logo após a posse, quando FHC mudou o modelo da política cambial e determinou o fim da sobrevalorização do real.

O calendário favorável a Lula esgotou-se bem na reta final, quando assessores aloprados mudaram a sua sina: a 15 dias das eleições, emergiu mais um escândalo destrutivo - um dossiê montado para desmoralizar adversários. A ausência em um debate crucial e, por fim, a foto do dinheiro com que o dossiê seria comprado, cancelaram as suas chances de repetir o êxito de FHC em 1998.

Shopping Estadão