Título: Derrotado no Ceará, Tasso vira alvo no PSDB
Autor: Christiane Samarco, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2006, Nacional, p. A12

Setores da cúpula do PSDB e da campanha de Geraldo Alckmin não estão satisfeitos com o trabalho do presidente nacional do partido, senador Tasso Jereissati (CE). Depois de romper com o candidato derrotado do PSDB ao governo do Ceará, Lúcio Alcântara, de assistir ao fracasso eleitoral de seus aliados na disputa ao Senado e à Câmara, e de não eleger sequer seus preferidos para a Assembléia, o senador ainda enfrenta críticas de correligionários que não vêem nele vocação para presidir o partido.

Na tarde de sexta-feira, colaboradores mais próximos de Alckmin avaliavam que a campanha esfriou e se perguntavam onde estava Tasso. Ao mesmo tempo, um dirigente do PSDB lembrava que a Executiva Nacional não se reuniu uma só vez durante o primeiro turno e queixava-se de que Tasso não tem interesse em ouvir a opinião dos correligionários. Ele observou que o PFL, ao contrário, fez encontros semanais durante todo o período e segue mantendo o ritmo.

No caso do Ceará, a avaliação predominante é a de que a briga entre Tasso e Alcântara acabou enfraquecendo o palanque de Alckmin no Estado. O resultado apareceu nas urnas. O tucano teve melhor desempenho eleitoral na Bahia (26,03% dos votos válidos), apesar da derrota do governador Paulo Souto (PFL), do que no Ceará, onde Alckmin conquistou apenas 22,79% dos votos válidos. O vitorioso na sucessão local foi Cid Gomes (PSB), irmão do ex-ministro e agora deputado Ciro Gomes (PSB), escalado para assumir a linha de frente da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com ataques ferozes aos tucanos.

Preocupada com a ofensiva de Lula, que envolveu praticamente todo o governo nesta segunda fase da campanha, a assessoria de Alckmin cobra um engajamento mais efetivo do PSDB. Enquanto Lula programava grandes comícios na Bahia e em Pernambuco, PSDB e PFL limitaram-se a promover reuniões em recintos fechados na semana passada, sem levar seu candidato para a rua.

'Não dá para entender por que o PSDB não assume o candidato, não o exibe', cobrou um tucano, para quem, a esta altura, Alckmin deveria ser tratado como 'um troféu'. Ao menos por hora, no entanto, a agenda do candidato não prevê campanha de rua ou comícios nos próximos dias.

O mesmo interlocutor observa, também, que o candidato ficou muito sozinho durante praticamente toda a campanha do primeiro turno. Diz que isso ocorreu porque, no fundo, ninguém acreditava que ele passaria ao segundo turno, até o surgimento do escândalo do dossiê Vedoin.

Os mais próximos de Alckmin atribuem o bom resultado à tenacidade, à insistência e à teimosia do próprio candidato. Em relação a Tasso, observam que ele viajou pouquíssimo com o candidato no início da campanha e depois sumiu, talvez porque não pusesse fé no candidato.

'Tasso, como todos nós, é falível. Tem acerto e erros, mas é de extrema lealdade e fez muito por Geraldo', diz o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM). Mais do que defender, Virgílio está empenhado em pôr um ponto final na polêmica. 'Não podemos gastar energia com isso. No partido não tem Ricardo Berzoini (presidente afastado do PT) nem dossiê. O que eu quero é que Lula me explique de onde veio o dinheiro para comprar o dossiê contra o PSDB.'