Título: Nova bancada de SP vai além de Maluf e Clodovil
Autor: Rodrigo Pereira, Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2006, Nacional, p. A16

O perfil da nova bancada paulista na Câmara ainda não ficou pronto. Em decorrência de decisões judiciais, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) está recalculando a divisão dos votos e só deve anunciar nesta semana a lista final dos 70 eleitos. Já se sabe que os candidatos Carlos Sampaio (PSDB) e Dimas Ramalho (PPS), que ficaram fora da lista inicial, serão incluídos - mas não se sabe quem sairá.

Seja qual for a decisão, a lista inicial do TRE já permite ver de forma clara a vontade dos eleitores paulistas. Eles decidiram trocar 60% da bancada eleita em 2002, um dos índices mais altos de renovação do País.

Descarregaram votos em políticos controversos, como Paulo Maluf (PP), o mais votado, e elegeram personagens folclóricos, como o estilista Clodovil Hernandes. Mas garantiram cadeiras no Congresso para figuras respeitadas até por seus adversários, como Paulo Renato (PSDB), ministro da Educação no governo Fernando Henrique, José Eduardo Martins Cardozo (PT), sub-relator de contratos da CPI dos Correios, e José Aristodemo Pinotti (PFL), ex-secretário de Saúde e Educação da Prefeitura de São Paulo.

O eleitor de São Paulo confirmou sua preferência pelo PSDB, dando-lhe 21% dos votos válidos. Graças a isso, a bancada tucana será 63% maior que a da atual legislatura, passando de 11 para 18 deputados - incluindo o promotor Carlos Sampaio.

A maioria dos integrantes da bancada eleita é formada por tucanos notáveis ou históricos. É o caso de Edson Aparecido, que, instalado no PSDB desde sua fundação, já presidiu o partido no Estado, foi líder do governo de Geraldo Alckmin na Assembléia e é tido como um dos políticos mais próximos do candidato à Presidência.

Na lista também aparecem o vereador José Aníbal, ex-líder da bancada na Câmara no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso; Walter Feldman, ex-presidente da Assembléia e um dos esteios do partido em São Paulo; e Arnaldo Madeira, tucano histórico e ex-secretário de Governo de Alckmin.

Se vencer a eleição presidencial, Alckmin terá na bancada paulista o núcleo mais aguerrido de sustentação do governo. Em caso da vitória de Lula, sairá dela o fogo mais pesado.

O PT, segundo partido na preferência do eleitor de São Paulo, perdeu terreno. Com 19% dos votos válidos, elegeu 14 deputados, um recuo de 23% em relação a 2002, quando emplacou 18. A maioria é de petistas ligados à máquina partidária e a esquemas de prefeituras. Entre os 14 eleitos, 6 são vinculados à ex-prefeita Marta Suplicy: Jilmar Tatto, Carlos Zarattini, Paulo Teixeira, José Mentor, Cândido Vacarezza e Devanir Ribeiro.

As tendências de esquerda perderam espaço na bancada do PT, assim como sindicalistas e candidatos independentes. Integrante desse último grupo, Martins Cardozo se reelegeu com 124 mil votos, menos da metade dos 303 mil obtidos em 2002. Vicentinho, ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) despencou de 254 mil votos para 97 mil e por pouco não fica de fora.

Um dos feitos mais notáveis na eleição para deputados federais coube ao PV. Sua bancada cresceu de 2 para 5 representantes, graças à estratégia de enfatizar o voto na legenda.

Os eleitores deram 391.531 votos para a legenda verde. Perdeu só para o PT, com 901.639, e o PSDB, com 845.340. O quarto colocado foi o PSOL. A legenda socialista obteve 141.224 votos. Elegeu Ivan Valente, que tinha deixada o PT em 2004, ao lado de Heloísa Helena, por discordar dos rumos do partido.

Enéas Carneiro, fenômeno eleitoral de 2002, quando teve 1,5 milhão de votos e arrastou com ele outros 5 inexpressivos deputados do Prona, vai voltar à Câmara. Mas dessa vez com menos força: obteve quase 387 mil votos e não conseguiu puxar ninguém para Brasília.

O PMDB vai ter uma representação pífia, com três deputados. E ainda corre o risco, ao final da recontagem do TRE, de ficar com apenas dois.