Título: Dinheiro pode ter passado por Freud
Autor: Fausto Macedo, Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Nacional, p. A5

O Ministério Público Federal avalia que o dinheiro que seria usado para comprar o dossiê Vedoin - que conteria acusações contra políticos tucanos - pode ter transitado pelas contas das empresas e da mulher de Freud Godoy, ex-segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e apontado em depoimento por Gedimar Passos como a pessoa que mandou pagar pelas informações.

Gedimar, ao lado de Valdebran Padilha, foi preso no dia 15 de setembro com o R$ 1,75 milhão que pagaria pelo material. Posteriormente, ele recuou da acusação contra Freud, alegando ter sido pressionado no primeiro depoimento pelo delegado Edmilson Bruno. Em acareação com o ex-segurança, porém, ele havia confirmado que Freud era o mandante.

Na última semana, o MP reiterou o pedido de quebra dos sigilos bancários de operações em bolsa e com cartões de crédito em nome de Freud, de sua mulher, Simone, e de duas empresas da família: Copes Serviços de Vigilância S/C Ltda. e Caso Sistemas de Segurança.

O objetivo dos promotores é promover uma devassa nas contas, com o objetivo de checar se, de alguma forma, elas foram utilizadas para financiar a compra do dossiê elaborado pela família Vedoin, acusada de comandar a máfia dos sanguessugas. No esquema, ambulâncias superfaturadas eram vendidas com a ajuda de parlamentares, que apresentavam emendas ao Orçamento da União.

Uma das linhas de investigação do MP diz respeito ao fato de o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter identificado, por exemplo, um depósito de R$ 150 mil em espécie feito por Freud na conta da Caso. A Copes, por sua vez, seria constituída pelo casal. Para a Procuradoria, há um entrelaçamento econômico e financeiro entre Freud e sua mulher, inclusive no período em que ele ocupou cargo de confiança no Palácio do Planalto - o qual deixou após seu nome ter sido envolvido no escândalo.

No entendimento dos procuradores, também não se pode afastar a possibilidade de que a Caso Sistemas de Segurança tenha sido utilizada por Freud e Simone para movimentar dinheiro sem origem conhecida ou até mesmo para, eventualmente, esquentar movimentações por intermédio de contratos ou operações de mercado destinadas a amparar o financiamento do dossiê. Assim, o MP pretende investigar se as empresas da família de Freud foram usadas para dar fachada legal ao trânsito de recursos destinados ao pagamento do material contra tucanos.

RASTREAMENTO

Além disso, para a Procuradoria, está claro que os envolvidos no escândalo levantaram dinheiro junto a diversas fontes, por intermédio de terceiros, e fracionaram os saques para dificultar o rastreamento. Até hoje, a Polícia Federal busca identificar de onde saíram os reais e dólares que compunham o montante de R$ 1,75 milhão.

Casas de câmbio estão sendo investigadas e há a suspeita de que parte do dinheiro tenha vindo do jogo do bicho.

No entendimento do MP, é preciso checar ainda se a mulher de Freud emprestou seu nome para o mesmo tipo de atividade, ou seja, para a movimentação de dinheiro que teria como destino a aquisição do dossiê Vedoin.