Título: Secretário de Lindberg nega ligação com o caso
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Nacional, p. A6

Cristian Ávila da Silva, secretário do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), disse ontem ao Estado que nunca esteve na empresa Vicatur Câmbio e Turismo, de onde saiu a maior parte dos US$ 248,8 mil usados para a compra do dossiê Vedoin, segundo a Polícia Federal. O dinheiro faz parte do R$ 1,75 milhão apreendido com Gedimar Passos e Valdebran Padilha em 15 de setembro, num hotel em São Paulo. Cristian classificou de absurda a suspeita de fontes da PF de que ele teria recepcionado Gedimar e Valdebran no aeroclube da cidade.

'Essa é uma informação completamente equivocada. Pode haver uma confusão em relação ao meu nome. Conheço muita gente no PT por conta da minha experiência no partido, mas não esse pessoal', disse Cristian, gaúcho que trabalha com Lindberg em Nova Iguaçu desde o início do ano. 'É uma pessoa da minha confiança', defendeu Lindberg. 'Cristian não é do Diretório Nacional, não teria uma articulação a ponto de fazer parte disso.'

Ao dar entrevista ao Estado em seu gabinete, Lindberg não quis fotos e chamou Cristian, seu ex-chefe de gabinete na Câmara e conhecido do movimento estudantil, à sala. Lindberg considerou coincidência o fato de a PF ter encontrado a origem de parte dos dólares numa casa de câmbio da cidade.

Ele reconhece que o fato chama a atenção, já que ele fez de Nova Iguaçu um reduto petista na Baixada Fluminense, mas negou qualquer participação sua ou de assessores com o dossiê.

'Fui surpreendido hoje. Quando apareceu alguma coisa de Nova Iguaçu, tomei um susto. Nunca ouvi falar dessa corretora, Vicatur. É ruim a cidade aparecer nisso', disse. 'Agora que identificaram essa Vicatur aqui, espero que investiguem e descubram quem são os responsáveis. Só acho tudo isso muito chato para nós, que não temos nada com isso. Estamos mais do que tranqüilos.'

Sobre as suspeitas de que o dinheiro apreendido em São Paulo tenha origem em recursos da campanha do presidente Lula, Lindberg disse não estar envolvido na captação de doações no Rio. 'Uma das coisas boas dessa campanha é que não temos nada a ver com organização de campanha, com arrecadação financeira, com nada.'

'Não tenho nada a ver com a campanha do Lula, só participo das atividades. Quem tem é a Benedita(da Silva)', disse. A ex-ministra coordena a campanha do presidente no Estado.

Procurada pela reportagem, Benedita não foi encontrada. Segundo a sua assessoria, ela tinha atividades eleitorais no interior do Estado.

O coordenador executivo da campanha de Lula no Rio, André Braga, disse que o diretório fluminense do PT não arrecada fundos, que é atribuição do comitê financeiro nacional, e não teria recursos para repassar nada aos envolvidos com o dossiê.

'O PT do Rio não tem nada a ver com esse episódio. Ninguém do PT do Rio está envolvido nisso, afirmo com convicção', completou Alberto Cantalice, presidente do PT fluminense.

ENVOLVIDOS

Lindberg disse que não conhece os personagens envolvidos no escândalo. 'Nunca vi. Conheço todo mundo do PT, sou ligado à Direção Nacional, mas esse (Jorge) Lorenzetti eu nunca ouvi falar. Freud Godoy? Nunca ouvi falar. Não conheço nenhum dos envolvidos.' O prefeito disse ter se lembrado apenas de ter visto Hamilton Lacerda, o ex-assessor de Aloizio Mercadante, suspeito de ter transportado o dinheiro, num congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), na década de 80.