Título: Abel acusa Vedoin de ter oferecido 'documentos contra Mercadante'
Autor: Fausto Macedo, Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Nacional, p. A7

Abel Pereira, suposto elo do PSDB com os sanguessugas, afirmou ontem à Polícia Federal que os Vedoin - mentores da máfia das ambulâncias superfaturadas - lhe ofereceram 'documentos que comprometeriam Aloizio Mercadante'. A reunião com Luiz Antônio Vedoin, disse Abel, ocorreu em um restaurante do Shopping Iguatemi, em São Paulo, em agosto.

Senador do PT, Mercadante foi candidato ao governo de São Paulo. Seu ex-coordenador de campanha Hamilton Lacerda é apontado pela PF como um dos cabeças da trama do dossiê Vedoin, que pretendia envolver José Serra com os sanguessugas.

Empreiteiro e fazendeiro, Abel Pereira reside em Piracicaba (SP) e é amigo de Barjas Negri, prefeito da cidade e ex-ministro da Saúde do governo Fernando Henrique, em 2002.

Nessa época, Abel teria facilitado a liberação de recursos extra-orçamentários da União para a compra de 681 ambulâncias do Grupo Planam, dos Vedoin. Por sua atuação como lobista, Abel teria cobrado 6, 5% de propina por negócio realizado.

No depoimento, Abel tentou tirar o PSDB do foco e apontou para Mercadante. 'Vedoin (Luiz Antônio) queria que eu o ajudasse a ter acesso à alta cúpula do PSDB. Ele disse que tinha documentos contra Mercadante e provas com força suficiente para influir na eleição de qualquer Estado', disse.

Abel afirmou que não viu os papéis que poderiam envolver Mercadante com os sanguessugas. 'Não tive interesse (nos documentos) e disse a ele (Luiz Antônio) que não tinha como infiltrá-lo na direção do PSDB porque não sou do partido, não sou filiado a partido nenhum.'

O empreiteiro concedeu entrevista depois da audiência. Caiu em contradições, foi evasivo e tentou dissimular suas ligações com os Vedoin, que são antigas. Também não deixou claro os motivos que o levaram a ter outros dois encontros com os Vedoin, em Cuiabá. Se não tinha interesse na papelada anti-Mercadante e nem como apresentar o chefe da máfia ao PSDB, por que voltou a se reunir com Luiz Antônio? 'Tive que vir porque tenho fazendas em Mato Grosso. Aí acabei marcando com ele.'

Ele reuniu-se com Vedoin em um escritório dia 24 de agosto e percebeu que estava sendo filmado. 'Acho que queriam fazer uma armação pra cima de mim. Verifiquei que o pessoal do PT estava aqui em Mato Grosso', disse Abel. O petista Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil e protagonista da farsa do dossiê, havia chegado a Cuiabá por aqueles dias.

Os advogados de Abel, Eduardo Silveira Mello Rodrigues e Sérgio Pannunzio, acusam Vedoin de tentar aplicar um golpe de estelionato. Na semana que passou, Luiz Antônio Vedoin, o pai dele, Darci, e outro empresário, Ronildo Medeiros, acusaram Abel perante a Justiça Federal de cobrar propina para intermediar liberação de verbas do Tesouro para o esquema.

'Fui uma única vez ao Ministério da Saúde', disse Abel. Foi em dezembro de 2002, crepúsculo do governo FHC. Barjas era o ministro. No dia 14, ele recebeu Abel, seu amigo, e o então prefeito de Jaciara (MT), Valdizete Nogueira, na época do PSDB, hoje PPS. Valdizete queria liberar verba de R$ 540 mil. Com Abel no circuito o dinheiro chegou aos cofres de Jaciara dia 28 de dezembro.

'Eu não era amigo do Barjas', tentou despistar o empresário. 'Mas acharam que eu tinha ligação com o PSDB. Eles (os Vedoin) construíram essa imagem. Me procuraram para tentar vender alguma coisa. Como não me interessei, chegaram a fazer uma espécie de ameaça, dizendo que uma revista ia publicar reportagem com acusações à minha pessoa.'

A PF flagrou telefonema de Abel para um ex-cunhado de Vedoin no dia 14 de setembro - véspera da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$ 1, 75 milhão que o PT usaria para comprar o dossiê. 'Liguei porque sabia que estavam tentando aprontar alguma coisa. O único telefone que eu tinha era o dele (do ex-cunhado).' Sobre os 15 cheques que somam R$ 601 mil - referentes à propina que teria recebido em 2002 -, foi enfático: 'Nunca recebi nada.' Os advogados sustentam que os cheques, entregues por Expedito à PF, não têm carimbo do sistema bancário.

O advogado Elói Riffati, que defende os Vedoin, reagiu às declarações de Abel: 'É a primeira vez que ouço falar no nome de Aloizio Mercadante'.