Título: Chefes de campanha trocam acusações
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Nacional, p. A11

Enquanto os candidatos à Presidência amenizaram ataques desde o início do segundo turno, os coordenadores das campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, e do tucano Geraldo Alckmin, senador Sérgio Guerra, parecem ter optado por manter o estilo agressivo. Em um debate promovido ontem pelo jornal Folha de S. Paulo, os dois coordenadores intercalaram ataques com algumas propostas programáticas.

Um dos temas que mais acirraram as discussões foi o das privatizações, que vem guiando boa parte do discurso de Lula no segundo turno. 'Privatizar é assunto da campanha do presidente Lula, não é assunto da nossa campanha', disse Guerra, rebatendo a tese de que Alckmin tende a promover novas desestatizações caso seja eleito.

Marco Aurélio, por sua vez, negou que o PT esteja fazendo algum tipo de terrorismo eleitoral. Segundo ele, as privatizações estão 'no DNA' de Alckmin. 'Há concretamente um aroma que exala de toda a sua trajetória política e da trajetória política das forças que o sustentam', afirmou.

Guerra reconheceu, no entanto, que a campanha tucana não é necessariamente contrária à venda de estatais. 'Eu também quero dizer com clareza que nós não temos nada contra as privatizações', disse o senador, ressaltando, entretanto, que esta não é uma proposta que integra os planos do partido para o futuro.

No confronto de ontem, o coordenador da campanha tucana também relembrou o escândalo do mensalão para atacar o governo Lula. 'Não concordo com esta festa que está sendo feita', disse. Assim que teve a chance, Marco Aurélio rebateu, alegando que há no País uma inconformidade de alguns setores com a alternância de poder resultante da última eleição presidencial. 'Não venham exigir aqui o monopólio da ética, porque este monopólio não lhes é dado', disse o petista.

Ao ingressar no tema do aparelhamento do Estado, Guerra afirmou que o PSDB, no caso de uma vitória no dia 29, vai valorizar carreiras no setor público 'ao invés de botar lá comandos extraordinários', nomeados por 'militantes do Partido dos Trabalhadores e gente vinculada ao governo'.

Logo na seqüência, o coordenador d a campanha do presidente Lula respondeu ao ataque: 'No que se refere ao funcionalismo público, pelo amor de Deus, senador, eu acho que pelo menos a exp eriência do governo FHC - eu sei que incomoda muito fazer menções ao FHC - mas a experiência do governo FHC é a pior possível', ironizou Marco Aurélio.

BOLÍVIA

O relacionamento entre o Bra sil e a Bolívia também foi abordado no confronto. Pouco após ter negado que o país vizinho tenha soltado algum tipo de ultimato ao Brasil envolvendo as negociações do fornecimento de gás natural, Marco Aurélio saiu em defesa da forma como o governo vem lidando com a questão desde que a gestão boliviana decidiu estatizar reservas de hidrocarbonetos.

'Aqueles que querem uma postura enérgica, que querem endurecer o jogo com a Bolívia foram os que tiraram os sapatos nos aeroportos nos Estados Unidos submissos completamente a um tipo de hegemonia internacional', afirmou. Guerra rebateu alegando que o 'campeão do sapato é o governo Lula', que enfrenta em sua administração o fechamento de fábricas e o aumento do desemprego neste setor.

Marco Aurélio, que antes de assumir a campanha cuidava da área de Assuntos Internacionais do governo, também disse que, caso não haja acordo com a Bolívia, a Petrobrás sairá daquele mercado. 'Se não houver acordo, a Petrobrás se retirará da Bolívia. É muito simples.'

Após o debate, os coordenadores tentaram justificar o clima mais agressivo. Marco Aurélio declarou que somente reagiu aos ataques lançados pelo tucano. 'Eu esperava que fosse um debate mais de esclarecimentos. Mas quando o senador Guerra levanta o tom, evidentemente, minha mãe me ensinou que não se leva desaforo para casa', explicou.

Guerra, por sua vez, disse que a campanha do PSDB é vítima de um 'golpe' por parte dos governistas. 'Um golpe de caráter criminoso, que foi desbaratado, mas não foi esclarecido. E outro golpe que tem por objetivo confundir a opinião pública', declarou.