Título: Brasil prefere africano a mexicano para OMS
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Nacional, p. A13

A diplomacia brasileira prefere apoiar um africano para liderar uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) em vez de dar seu voto para o único candidato latino-americano, o ministro mexicano da saúde, Julio Frenk. No início de novembro ocorrerão as eleições para a direção-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma das mais relevantes agências da ONU e que ganhou importância nos últimos anos com a necessidade de ter um plano global contra novas epidemias, como a da gripe aviária, que pode causar uma crise mundial.

Até a semana passada, a diplomacia brasileira apoiava o presidente equatoriano, Alfredo Palácio González, em fim de mandato. O Itamaraty chegou a oferecer suas embaixadas pelo mundo para que ele fizesse sua campanha, já que o Equador não conta com grande número de representações no exterior.

Mas na OMS o argumento era de que o equatoriano tinha o apoio apenas dos presidentes Lula e Evo Morales, da Bolívia. Argumentando que teria de ficar em seu país para fazer a transição democrática para o próximo presidente, Palácio desistiu da campanha.

O Brasil, para surpresa de muitos na OMS, não passou a apoiar o outro candidato latino-americano, mas sim o de Moçambique, Pascoal Mocumbi, que em 2005 tornou-se embaixador de boa vontade da OMS. Ele já foi ministro da Saúde de Moçambique e representante do Programa de Ensaios Clínicos Europa-países em vias de desenvolvimento da entidade.

Não é a primeira vez que a diplomacia brasileira dá apoio ao africano. Nas últimas eleições, em 2002, Mocumbi era a primeira opção de voto brasileira. Para as atuais eleições, o africano já tem o apoio de todos os países de língua portuguesa.

Frenk, por seu lado, estaria com as chances em alta e, segundo seus assessores, o governo dos Estados Unidos estaria disposto a apoiá-lo. O mexicano chegou a contratar uma empresa de relações públicas em Washington para organizar sua campanha, que muitos caracterizam como sendo de proporções de chefe de Estado. A revista médica britânica The Lancet (www.thelancet.com), uma das mais influentes da área, apóia abertamente o mexicano.

Esta é uma das mais acirradas disputas para o comando de uma agência da ONU. As eleições serão antes do previsto, pois o ex-diretor-geral da entidade, o coreano Jong Wook Lee, morreu em maio, de ataque cerebral.

Dois candidatos fortes são Margaret Chan, da China, e o japonês Shigeru Omi. Mas com a recente eleição de um asiático para secretário-geral da ONU, o coreano Ban Kim-Moon, muitos alegam que as candidaturas de ambos estariam enfraquecidas.

Margaret foi diretora-adjunta da área de doenças transmissíveis da OMS, com forte atuação na questão da gripe aviária, e se licenciou para disputar o comando da organização. Omi é diretor regional da OMS na área do Pacífico Ocidental.

Mais oito candidatos participam da disputa. Na Europa, são quatro candidatos, entre eles o ex-ministro da Saúde francês Bernard Kouchner, fundador da entidade Médicos Sem Fronteira.