Título: 'Não abandonem o Iraque', pede ao Ocidente o vice-premiê do país
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Internacional, p. A14

O vice-primeiro-ministro iraquiano Barham Saleh pediu ontem que as forças de coalizão não abandonem o Iraque agora e que superem o 'pessimismo' e o 'derrotismo' em relação ao futuro do país. As declarações de Saleh foram feitas em meio às pressões de políticos democratas e republicanos, nos Estados Unidos, para que a Casa Branca transfira maiores responsabilidades de segurança ao governo de Bagdá, o que abriria caminho para a retirada das tropas americanas do país.

'Sei que o compromisso da comunidade internacional não era indefinido, mas creio que bater em retirada agora não é uma boa idéia', disse Saleh em Londres, logo após uma reunião com o primeiro-ministro Tony Blair para tratar da situação no Iraque.

Saleh também revelou que até, o fim do ano, 'sete ou oito das 18 províncias do país estarão sob total controle iraquiano', sem fornecer maiores detalhes de como será feito esse controle. Mas advertiu que, para isso, a presença das tropas lideradas pelos EUA é 'crucial'.

EXTENSA LISTA

As declarações de Saleh geraram reações quase imediatas entre as autoridades americanas e britânicas. Em Washington, Dan Bartlett - que integra o quadro de assessores diretos da secretária de Estado, Condoleezza Rice - negou que os EUA estejam dando ultimatos para o governo do Iraque. 'Utilizamos apenas uma série de parâmetros para medir os progressos dos iraquianos', disse.

O porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, também negou que os EUA estejam ameaçando a retirar as tropas do país. 'Ainda há uma extensa lista de coisas a fazer antes que o Iraque possa se defender sozinho', afirmou.

O dia foi especialmente violento em Bagdá, onde cinco explosões de carros-bomba deixaram dez mortos nas últimas 24 horas. Em outros ataques na capital, mais cinco pessoas morreram - incluindo três soldados americanos, elevando para 86 as baixas no Iraque apenas este mês, considerado o pior em dois anos para as tropas americanas. Por causa da violência, pouco sunitas saíram às ruas ontem para comemorar a festa de Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã. Os xiitas comemoram o Eid al-Fitr hoje e amanhã.

A violência também voltou a atingir Amara, que na sexta-feira foi ocupada por algumas horas pelo Exército de Mahdi, milícia do líder xiita anti-EUA Muqtada al-Sadr. Integrantes do bando seqüestraram e mataram ontem quatro policiais iraquianos aliados à milícia rival, a Brigada de Badr, também xiita. Para evitar novos confrontos, o governo iraquiano decretou toque de recolher na cidade, que fica a 300 quilômetros a sudeste de Bagdá.