Título: Ultradireita integrará governo de Israel
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Internacional, p. A14
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, assinou ontem um acordo para incluir em seu governo o partido de ultra direita Israel Beitenu (Israel Nosso Lar), cujo líder Avigdor Lieberman, é conhecido por declarações polêmicas e discurso antiárabe. O acordo, que deve ser aprovado hoje pelo Parlamento, tem a finalidade de garantir a sobrevivência política do governo de Olmert.
A popularidade do primeiro-ministro israelense, do partido centrista Kadima, está em baixa desde o fracasso militar israelense em combater o grupo xiita Hezbollah na guerra dos 34 dias no Líbano, em julho e agosto deste ano. Com a nova aliança, serão incorporados à coalizão de Olmert os 11 deputados do Israel Beitenu, o que dará ao primeiro-ministro o apoio de 78 das 120 cadeiras do Parlamento e facilitará a aprovação de seus projetos.'O governo deve ter uma maioria estável e precisamos de uma base política ampla para conseguir isso', disse o premiê.
Uma das figuras mais polêmicas do cenário político israelense, Lieberman propôs recentemente a expulsão dos 1,3 milhão de árabes que vivem em Israel (onde eles são 20% da população) e a execução de parlamentares que mantivessem algum contato com membros do Hamas, o grupo islâmico que está à frente da Autoridade Palestina. Em 2002, ele defendeu o bombardeio deliberado de alvos civis em território palestino - como postos de gasolina, bancos e edifícios comerciais - e, no ano passado, foi radicalmente contra a retirada israelense da Faixa de Gaza.
Com a participação da ultra direita no governo, é ainda menos provável que Olmert comece a retirar as tropas e assentamentos israelenses da Cisjordânia, promessa feita no início da sua gestão.
P elo acordo, Lieberman acumulará os cargos de vice-premiê e ministro das Ameaças Estratégicas, pasta recém-criada para tratar de assuntos como o programa nuclear do Irã.
'A ameaça iraniana é a grande questão e nem quero pensar no que pode acontecer em um ou dois anos se não lidarmos com ela agora', disse Lieberman, acrescentando que o seu partido está tentando 'salvar o país, não o governo'.
O acordo também prevê a discussão de mudanças no sistema de governo israelense, projeto que há algum tempo vem sendo defendido separadamente por Olmert e por Lieberman.
No domingo, o Gabinete aprovou uma proposta de Lieberman para substituir o sistema parlamentarista israelense por um mais próximo do presidencialismo dos EUA, que agora será levada ao Parlamento.
Pela proposta, o premiê seria eleito de forma direta e teria seus poderes ampliados. Além disso, a participação de partidos pouco representativos seria barrada - o que dificultaria a vitória de grupos árabe-israelenses. Olmert apoiou a proposta no Gabinete, mas ontem disse que retirará seu consentimento no Parlamento.
Nos próximos dias, a direção do Partido Trabalhista - partido de centro-esquerda que faz parte da coalizão de Olmert - deve se reunir para decidir como vai responder à aliança do governo com o Israel Beitenu.
De acordo com alguns de seus funcionários, a maior parte da direção deve concordar com a permanência na coalizão, apesar de o líder da agremiação, o ministro da Defesa, Amir Peretz, ser contra.