Título: China: corrupção afasta mais um
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Internacional, p. A15

O chefe da comissão de Xangai encarregada de supervisionar empresas estatais foi envolvido em um caso de corrupção nos fundos de pensão da cidade - um expurgo que reforça o poder do atual presidente, Hu Jintao. Lin Baoheng foi detido no fim de semana e interrogado, no processo que investiga desvios de parte dos fundos estatais de Xangai. Um dos vices de Baoheng, Wu Hongmei, também estaria envolvido. Segundo um jornal de Hong Kong mantido por Pequim, mais de 50 funcionários do governo e empresários já foram investigados e detidos no caso.

A informação sobre as últimas prisões foi dada ontem por fontes do governo chinês. Pequim enviou a Xangai mais de 100 investigadores para apurar o desvio. Parte do dinheiro para seguro social da cidade - cujo valor total é equivalente a US$ 1,25 bilhão - foi mandada para fundos e investimentos ilegais. O mais alto funcionário punido nas investigações foi Cheng Liangyu, afastado do cargo de secretário-geral do Partido Comunista da China em Xangai, em 25 de setembro.

Cheng era adversário político de Hu e próximo ao ex-presidente Jiang Zemin (1993-2003), que antes de tornar-se secretário-geral do país comandou o PC em Xangai. A cidade, centro financeiro, econômico e industrial do país, também tem bastante importância no cenário político chinês.

Cheng também fazia parte do Comitê Central do Partido. Ele foi o primeiro integrante desse comitê afastado por corrupção desde 1995.

Hu e Jiang celebraram ontem, no Grande Palácio do Povo de Pequim, o 70º aniversário do fim da Grande Marcha (executada pelo Exército comunista entre 1934 e 1935, que acabou com a ascensão de Mao Tsé-tung e a vitória dos comunistas sobre os nacionalistas do Kuomintang). Foi a primeira cerimônia em que o atual e o ex-presidente aparecem juntos, desde o afastamento de Cheng. A imprensa oficial não relacionou diretamente a aparição ao escândalo de Xangai, mas a menção dos dois nomes juntos foi interpretada como tentativa de negar a existência de um conflito no partido. Geralmente, ex-presidentes presentes em cerimônias oficiais não são mencionados no jornal oficial.

Ontem, a Procuradoria Popular Suprema informou que 67.500 funcionários comunistas foram presos desde que o presidente Hu iniciou uma campanha anticorrupção, em 2003. Neste ano, 17.505 pessoas foram julgadas e punidas por desvios.

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