Título: Dívida cresce R$ 22,8 bi e chega a R$ 1,06 trilhão em setembro
Autor: Fabio Graner, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Economia, p. B4

A dívida interna em títulos públicos federais cresceu R$ 22,85 bilhões em setembro e chegou a R$ 1,062 trilhão. O valor é 2,2% superior ao de agosto. Somente a correção dos papéis pelos juros teve impacto de R$ 12,16 bilhões no mês, sendo o restante do crescimento provocado pela emissão de títulos pelo Tesouro Nacional. Em todo o ano, os juros pagos somaram R$ 105,9 bilhões, volume maior do que os R$ 82,2 bilhões de crescimento no saldo da dívida de janeiro a setembro. Essa diferença mostra que, no ano, o Tesouro resgatou R$ 23,7 bilhões líquidos em títulos.

O forte crescimento da dívida interna, entretanto, foi acompanhado de melhora no seu perfil. A parcela de papéis com remuneração prefixada (cuja taxa de juros é definida no momento da venda do título) passou de 31,49% para 32,83% do total, atingindo o maior nível da série histórica iniciada em 1999. O indicador está dentro da banda estabelecida pelo Tesouro para 2006, que vai de 28% a 37%.

'Estamos tentando melhorar o perfil da dívida aumentando a participação de títulos prefixados', disse o coordenador-geral da Dívida Pública, Ronnie Tavares. Os prefixados são considerados de melhor qualidade porque conferem maior previsibilidade para a administração da dívida pública. Tavares comentou ainda que, aproveitando o fato de setembro ter sido um mês de baixos vencimentos, o Tesouro fez emissões líquidas de prefixados e alterou a composição da dívida.

A contrapartida ao aumento na participação de títulos prefixados foi a redução da parcela atrelada à taxa Selic, que passou de 46,14% para 44,79% do total. Sem considerar as operações de swap (em que o governo fica credor em dólar e devedor em juros), a parcela vinculada à taxa caiu de 42,5% para 41,46%, próximo do piso da meta estabelecido no Plano Anual de Financiamento da Dívida (PAF), de 39%. Esses títulos são considerados de pior qualidade porque o juro pago varia conforme a definição da taxa básica pelo BC.

Mas a melhora no perfil da dívida teve como efeito colateral uma piora no importante indicador de prazo médio, que caiu de 29,84 meses para 29,65 meses. Quanto maior o prazo médio, melhor a percepção em torno da capacidade de o governo pagar sua dívida. Desde fevereiro, o Tesouro patina na casa dos 29 meses, sem conseguir superar a marca de 30 meses, que é o piso previsto no PAF.

Outro indicador importante de solvência que piorou foi o de dívida a vencer em até 12 meses, de 39,19% a 39,99%. O objetivo do governo é encerrar o ano com esse índice entre 31% e 36% do total da dívida. Apesar da distância da meta, Tavares considera seu cumprimento 'factível'.

Os dados divulgados ontem pelo Tesouro e pelo Banco Central mostram ainda que a posição do governo credora em câmbio, em relação ao mercado, teve redução de R$ 400 milhões. Apesar desse indicador estar caindo desde maio, o chefe do Departamento de Mercado Aberto do BC, Ivan de Oliveira Lima, não vê nisso uma tendência. A parcela da dívida atrelada a índices de preços ficou estável em setembro, representando 21,5% do total.