Título: EUA e UE ameaçam criar barreiras contra a China
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2006, Economia, p. B6

Americanos e europeus começam a perder a paciência em relação à China e alertam: chegou o momento de Pequim retirar suas práticas desleais de comércio se não quiser ver seus produtos sofrerem para entrar nos principais mercados do mundo. Hoje, a União Européia (UE) anuncia sua nova política comercial para a China, enquanto em Washington o governo deixa claro que não está mais disposto a aceitar atitudes comerciais de Pequim que prejudiquem empresas estrangeiras. Tudo isso ocorre na semana em que EUA e Europa conseguirão a autorização da Organização Mundial do Comércio (OMC) para iniciar a primeira disputa comercial contra a China em um tribunal internacional.

Em Bruxelas, o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, deixará claro que a China precisa reformar leis e manter o compromisso de abertura de mercado, como previsto no acordo de adesão de Pequim à OMC em 2001.

Os europeus argumentam que os chineses conseguiram altas taxas de crescimento do PIB graças às suas exportações, principalmente para a Europa. O bloco de 25 países europeus consome 19% do que China vende ao mundo.

'Só conseguiremos sustentar o argumento de abertura na Europa se a China tomar medidas recíprocas e estiver disposta a atuar pelas regras do comércio', afirmaram Mandelson e a comissária de Relações Exteriores da Europa, Benita Ferrero-Waldner, em artigo publicado ontem no International Herald Tribune. 'Caso contrário, poderemos ter um aumento do protecionismo na Europa que já ocorre em algumas partes dos Estados Unidos.'

Às vésperas de completar cinco anos na OMC, o país é pressionado a eliminar práticas como os empréstimos que os bancos dão a taxas baixas para exportadores. Os chineses também serão pressionados a controlar a pirataria. Bruxelas garante que não hesitará em levar novos casos aos tribunais.

'Para que as relações sejam sustentáveis politicamente e economicamente, a China precisa demonstrar seu compromisso com a abertura de mercado, concorrência leal e liderança responsável', diz a UE em seu documento de política comercial que será emitido hoje. O plano prevê a revisão de acordos de investimentos e uma estratégia para indústrias européias competirem na China, principalmente em alta tecnologia.

A China é tida como maior desafio do continente nos próximos anos. Entre 2000 e 2005, as vendas européias para Pequim aumentaram 69%. Não por acaso, no plano, a Comissão Européia estipula o ensino de chinês entre diplomatas até 2011.

A ofensiva de Bruxelas ocorre no mesmo momento em que o presidente da França, Jacques Chirac, desembarca em Pequim para tentar fechar acordos para investimentos de empresas francesas. Chirac tentará convencer os chineses a encomendarem aviões da Airbus ou vagões da Alstom, além da criação de uma linha do TGV (trem rápido) entre Xangai e Pequim.

Os EUA, com déficit comercial recorde com a China de US$ 202 bilhões, também aumentaram o tom de voz. A Casa Branca acusou Pequim de manter programas de subsídios ilegais e de não informar como ajuda setores como os de semicondutores, têxteis e de automóveis.

Na quinta-feira, a OMC deve instaurar uma arbitragem à pedido das potências ocidentais contra a China. O motivo é a exigência que Pequim faz para que um produto importado receba tarifas menores. O foco da disputa é o setor de autopeças. Montadores que usem mais de 60% de peças produzidas localmente podem importar itens por tarifas baixas. Para as fábricas que não seguirem a lei, a taxa sobe para 25%.