Título: Um confronto com erros, exageros e omissões
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2006, Nacional, p. A7

Os candidatos a presidente não distorcem apenas os números da economia e dos gastos nos debates. Ora erram, ora exageram também nos ataques políticos e nos exemplos. Luiz Inácio Lula da Silva desqualificou na TV Record o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), na tentativa de desvalorizar suas denúncias sobre o mensalão. Mas enquanto foi seu aliado, Lula disse que assinava cheque em branco para ele.

Provocado por Alckmin, que acusou o governo de andar a passos de caranguejo na economia, disse que a redução da pobreza não ocorre por causa de taxas de crescimento. Afirmou que na era militar o Brasil alcançou o milagre econômico a taxas superiores a 10% ao ano e a pobreza aumentou, mas omitiu que o czar da economia à época era Delfim Netto, seu consultor para política econômica do segundo mandato.

Quando indagado se é a favor da liberdade de imprensa ou do controle dos meios de comunicação, Lula deu resposta dúbia, a princípio, e confusa, depois. Disse que é resultado da liberdade de imprensa e que não poderia ser hipócrita e deixar de denunciar que num determinado Estado uma candidata de oposição apareceu 66 vezes numa emissora e seu adversário, nenhuma. Só duas das candidatas no segundo turno - Denise Frossard (PPS-RJ) e Yeda Crusius (PSDB-RS) - são de oposição. Informalmente, as emissoras dos Estados disseram que isso seria impossível acontecer.

Lula escamoteou fatos ao falar da máfia dos sanguessugas. Afirmou que ela começou com José Serra no Ministério da Saúde e sugeriu a Alckmin que buscasse dados com o ex-ministro Barjas Negri (PSDB), que o PT costuma apontar como suspeito. Nesse ponto, o petista fez coro com o dossiê Vedoin - embora Lula sempre repita que o material não o beneficia.

Alckmin também não ficou atrás. Disse que o País não tem seguro agrícola. Lula, por sua vez, se disse o criador do seguro agrícola - que, na verdade, foi instituído em 1973, no governo Médici.