Título: Contra o PT, Lula apóia Roseana em nome da 'lealdade'
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2006, Nacional, p. A10

O presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva justificou ontem o pedido de votos para a candidata ao governo do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), pela 'lealdade' dela e do pai, senador José Sarney (PMDB-AP), durante a crise do mensalão e as prévias do PMDB. 'Na hora do pega pra capar eles estavam do meu lado. Essas coisas a gente não esquece.'

Sob sol forte, em comício na cidade de Timon, a 450 quilômetros de São Luís, o presidente afirmou que o clã Sarney foi leal e impediu que a oposição o tirasse do poder. 'Em todos os momentos difíceis eles me defenderam, enquanto outros tacavam pedras e faziam julgamentos precipitados', ressaltou.

Roseana tenta colar sua imagem à de Lula para vencer a difícil disputa com Jackson Lago (PDT) pelo governo estadual. O presidente, que obteve 75% dos votos no primeiro turno no Maranhão, apóia Roseana, mas o PT local é aliado de Jackson Lago.

O comício foi um claro agradecimento a Sarney, que o defendeu dos escândalos que envolveram petistas e atuou para que o PMDB não lançasse candidato próprio à Presidência. Erguendo o braço de Roseana, Lula assegurou que fará uma 'revolução'. 'E para que eu tenha força para fazer essa transformação, peço: quem votar em mim, por favor, vote também na querida companheira Roseana.'

A influência e a força dos Sarney, nas últimas décadas, não garantiram ao Maranhão uma boa qualidade de vida para a população. Dos 6,1 milhões de habitantes do Estado, 38,43% estão abaixo da linha de pobreza, segundo o IBGE. O Maranhão também sofre com falta de saneamento básico, analfabetismo e desnutrição infantil.

AGRESSÃO

Tumulto, calor intenso, ônibus gratuito para pobres, camarotes para vips e violência com manifestantes marcaram o comício. Seguranças de Roseana agrediram uma militante do PT que empunhava uma bandeira com os nomes de Lula e Jackson Lago.

A engenheira agrônoma Juliana Pinheiro, de 50 anos, do PT de São Luís, enfrentou num primeiro momento dois seguranças, que quebraram o mastro da bandeira que empunhava e a empurraram por mais de dez metros. Depois, diante da imprensa, um grupo maior puxou a bandeira e voltou a agredir a militante. 'A gente entende a conjuntura nacional. O Lula precisa dos votos do Sarney no Congresso, mas me sinto muito desqualificada quando vejo que o presidente apóia Roseana', disse Juliana.

Lula, que só tinha estado uma vez no Maranhão como presidente, foi convencido por Sarney a pedir votos para Roseana. Depois do comício de Timon, Lula e o senador seguiram para Teresina (PI), para mais um comício. Lá, encontrou dezenas de jovens com bandeiras do adversário Geraldo Alckmin (PSDB). Sarney foi vaiado pela multidão, de cerca de 3 mil pessoas. O presidente voltou a fazer discurso contra as privatizações.