Título: Tucanos discutem qual oposição fazer
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2006, Nacional, p. A12

O PSDB divide-se hoje entre os franco-atiradores, que em vez de conversa propõem o uso de munição pesada contra o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a ala mais light, liderada pelo governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves, sempre preocupado em não dinamitar as pontes do diálogo com o Executivo federal.

Apesar das diferenças, líderes dos dois grupos avaliam que, no cenário de derrota do tucano Geraldo Alckmin na corrida presidencial, o papel do PSDB será de 'oposição responsável', semelhante ao assumido no primeiro ano de governo Lula. 'Nada de fora Lula', resume um dos críticos mais ácidos do presidente. 'Seja quem for o próximo presidente da República, a primeira tarefa é esfriar a cabeça', recomenda desde já o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).

'Confio na vitória, mas quando termina a luta todo lutador tem que dar uma parada e meditar', concorda o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM). Porém, ele adverte que 'o clima político não é bom, seja qual for o resultado das urnas' e deixa claro que Lula não terá um minuto de sossego em seu eventual segundo mandato, 'porque é um passarinho baleado, com a asa quebrada, que ficará ao alcance de todos os gatos de plantão'.

Diante da derrota iminente apontada pelas pesquisas, um setor do partido prega a calma imprescindível à definição da melhor estratégia para fazer oposição ao governo. Dirigentes tucanos defendem a tese de que, seja qual for o resultado eleitoral, o mais importante é conquistar a presidência do Senado. Por isto mesmo, consideram que a parceria bem-sucedida com o PFL é fundamental. Como os pefelistas saíram das urnas com o status de maior bancada do Senado, as regras e a tradição parlamentar lhes garantem o direito de indicar o presidente da Casa.

Virgílio contesta a divisão interna e diz que as diferenças decorrem apenas das posições táticas. 'Quem está no Parlamento atira mais do que os governadores porque eles precisam manter o diálogo institucional com o presidente', resume.

Apesar disso, um dos principais interlocutores do governador eleito de São Paulo, José Serra, sustenta que ele vai 'buscar um discurso de centro-esquerda e liderar a oposição mais doutrinária ao governo, com a atenção sempre voltada à economia'. Segundo este parlamentar, Serra fará o 'contraponto à política econômica conservadora do governo do PT'.

Bem no estilo franco-atirador que o caracteriza, Virgílio afirma que, hoje, Lula não tem interlocutores para dialogar com o Congresso, especialmente com a oposição. Ele confessa não ter a menor intenção de aceitar o convite, 'que nem era para valer', de um jantar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, feito há duas semanas.

Irritado com a movimentação do ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, que pregou a coalizão de governo antes do primeiro turno e agora volta a falar em diálogo com as forças políticas, Virgílio chegou a subir à tribuna ontem, para recusar a oferta de diálogo antes da abertura das urnas. O líder protestou contra a 'grosseria' do ministro que quer atropelar o resultado eleitoral.

Para o tucano, o ministro não passa de 'um guerrilheiro do governo que passou o tempo todo agredindo o PSDB' e, por isto mesmo, considerou sua proposta 'indigência intelectual'.