Título: Crédito bancário chega a R$ 391 bi e atinge o mais alto nível desde 1994
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2006, Economia, p. B3
O volume de crédito livre concedido pelo sistema bancário às empresas e consumidores aumentou 1,9% no mês passado e atingiu o maior nível desde o início da série estatística do Banco Central, em julho de 1994. O estoque dessas operações passou de R$ 383,9 bilhões, em agosto, para R$ 391,2 bilhões, alcançando 22,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
O chamado crédito livre corresponde às operações para as quais não há direcionamento obrigatório na legislação. Já o volume de crédito total aumentou de 32,8% para 33% do PIB, nível mais alto desde os 33,1% de outubro de 1997. O maior índice foi de 37%, em fevereiro daquele ano.
Os dados sobre as operações do sistema financeiro, divulgados ontem pelo BC, mostram ainda que a taxa média de juros dos empréstimos bancários caiu 0,4 ponto em setembro, para 41,5% ao ano. O porcentual, de acordo com o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, é o menor desde o início da série histórica, em junho de 2000.
A redução foi puxada por uma diminuição dos juros cobrados das empresas, que caíram de 27,9% para 27,3% ao ano, menor taxa desde os 23,5% de outubro de 2002. Para as pessoas físicas, no entanto, a redução foi bem mais modesta: apenas 0,1 ponto porcentual. Com isso, a taxa média paga pelos consumidores ficou em 53,8% ao ano em setembro. Apesar da queda menor, a taxa ainda é a mais baixa desde o início da série do BC, em julho de 1994.
Para Lopes, essa redução reflete os juros mais baixos cobrados nos empréstimos com desconto em folha. 'O crédito consignado está ajudando a jogar a taxa média para baixo.' Nos empréstimos com desconto em folha, a taxa de juros cobrada pelos bancos estava em 34,7% ao ano em setembro. Os juros do crédito pessoal rondavam em 58,9% ao ano.
Segundo ele, o ritmo mais lento de queda dos juros para os consumidores, em setembro, foi causado pelo nervosismo do mercado financeiro em razão das eleições presidenciais no Brasil e de crises políticas em países como Hungria, Polônia, Equador e Indonésia.
Com as incertezas, aumentou o custo de captação de dinheiro para os bancos. 'E a alta foi repassada aos tomadores de crédito', comentou Lopes. Em setembro, a taxa média de juros do crédito para a compra de eletrodomésticos e outros bens de consumo subiu de 59,4% para 61% ao ano.
Passado o pior da crise, as taxas cederam. 'Mas a queda não foi repassada integralmente aos empréstimos', disse Lopes. Ele espera, no entanto, que os juros voltem a cair com o retorno da normalidade ao mercado.
Outro fator que pode ter contribuído para manter o crédito caro foi a taxa de inadimplência, que, em setembro, subiu pela terceira vez consecutiva e chegou a 5,1% do total de operações. 'Como tivemos um aumento do crédito, é normal que ocorra alguma elevação da inadimplência', considerou o chefe do Depec.
Esse índice de atraso no pagamento dos empréstimos foi o mais elevado desde os 5,3% de outubro de 2000. Nas operações com pessoas físicas, a inadimplência passou de 7,6% para 7,8% - maior taxa desde os 7,9% de agosto de 2003. O atraso das empresas cresceu de 2,5% para 2,7%, atingindo o maior porcentual desde novembro de 2003.
Com a inadimplência maior, o BC teve uma elevação do spread nas operações de crédito livre. O spread, que corresponde à diferença entre os juros pagos pelos bancos para captar dinheiro e o que eles cobram para emprestar, subiu de 27,5 para 27,8 pontos de porcentagem de agosto para setembro. Apesar da alta, o spread ainda acumula queda de 1 ponto porcentual no ano.