Título: Lula elege Gandhi como modelo, mas ataca PSDB
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2006, Nacional, p. A6

Minutos depois de comparar os tucanos a estelionatários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que vai seguir a orientação do pacifista Mahatma Gandhi (1869-1948), líder da independência da Índia que pregou uma luta sem violência contra o Reino Unido e abdicou do sexo influenciado pela crença hindu de pureza espiritual. 'Os ingleses o provocavam, entravam na tenda dele, faziam desaforo, colocavam até mulheres para ver se o Gandhi cedia à tentação e tinha um caso', descreveu Lula, durante discurso em Valparaíso de Goiás, uma das cidades do entorno de Brasília. 'Eles o ofendiam, mas ele não perdia a postura e permanecia tranqüilo, pois tinha por objetivo libertar a Índia.'

Apesar da promessa de pacifismo na campanha, Lula voltou a fazer duros ataques ao PSDB, usando a imagem de quadrilhas de estelionatários para criticar o partido do adversário Geraldo Alckmin. 'Eles são capazes de passar na rua, ver um carro estacionado e eles vendem; depois não entregam, mas vendem', disse o presidente. 'O meu adversário falou (no debate) em vender o avião presidencial, eu não me incomodei, pois aquela gente só sabe vender o que não é dela.'

O presidente disse que seus aliados precisam ter 'calma' e 'tranqüilidade' neste momento da campanha, mas não demonstrou isso no palanque, diante de cerca de 3 mil pessoas. Lula demonstrava estar sem paciência, angustiado e ansioso, andando de um lado a outro. Depois, pediu à militância para 'não ter medo de cara feia', colocar adesivos nos carros e levantar a bandeira da candidatura dele.

DEBATES

Lula disse que vai aos próximos debates - na TV Globo, no SBT e na Record. 'Gostei tanto do debate (da Bandeirantes) que marquei com o SBT e a Record', afirmou. 'Se ele (Alckmin) quiser ficar nervoso, decorar as coisas durante a semana, pode fazer.' No início da semana, no entanto, o presidente só lamentava sua performance no debate da Bandeirantes.

No discurso, ele acusou o adversário de não ter investido em política social quando esteve à frente do governo paulista. 'O que ele (Alckmin) conseguiu foi o cheque-cidadão para 170 mil pessoas', disse. 'Somente o governo federal atende 1,1 milhão de famílias no Estado do nosso adversário, repassando R$ 2,19 bilhões para cuidar de pessoas pobres.'

Num trecho do discurso, Lula não afastou a possibilidade de perder a eleição. 'Vamos supor que haja um desastre e a gente não ganhe a eleição, mas tenho ainda dois meses para governar.' No fim, ainda sugeriu aos que foram ao comício que lessem o livro Esta noite, a liberdade, de Dominique Lapierre e Larry Collins, sobre Gandhi.