Título: Presidente diz que não teria privatizado telefonia e Vale
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2006, Nacional, p. A7
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista ao jornal O Globo, publicada ontem, que não teria privatizado empresas do sistema Telebrás nem a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). A mineradora e as estatais de telefonia multiplicaram por muito seus investimentos e o número de consumidores beneficiados depois que foram para as mãos da iniciativa privada na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
A resposta de Lula pode ser entendida dentro da estratégia que foi definida pelo comando de campanha do presidente de colar em seu adversário, o tucano Geraldo Alckmin, o carimbo de privatista.
Nos últimos dias, integrantes do PT e o próprio Lula têm dito que o candidato do PSDB, se eleito, privatizaria a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, entre outras empresas estatais ou de economia mista. As declarações, negadas por Alckmin, foram classificadas pela oposição de 'terrorismo eleitoral'.
Na entrevista ao jornal do Rio, o tema da corrupção e do envolvimento dos aliados petistas no escândalo do dossiê Vedoin contra políticos tucanos, entre outros casos, produziram as respostas mais evasivas.
O presidente, por exemplo, disse que não teve a curiosidade de perguntar quem forneceu o dinheiro para bancar a compra do material preparado pela família Vedoin, acusada de chefiar a máfia dos sanguessugas - esquema de compra superfaturada de ambulâncias, do qual parlamentares participaram. 'O papel de perguntar é da Polícia Federal', respondeu. Lula, porém, voltou a insinuar que há um arquiteto, de fora do PT, que teria armado a trama do dossiê com o intuito de prejudicar sua campanha. O presidente também insistiu que é preciso investigar não só o conteúdo do material com as acusações como também a identidade desse suposto personagem.
Confrontado com a questão do aparelhamento do Estado pelo PT, o que teria prestigiado personagens como Jorge Lorenzetti, seu churrasqueiro preferido e acusado de envolvimento no escândalo, Lula disse que nem sequer trocou a camareira do Palácio da Alvorada que servia a FHC e que tudo não passa de acusação de quem, uma vez desalojado do governo, pretende manter nos cargos as pessoas apadrinhadas.
O PT, contudo, preencheu, de acordo com a própria legenda, cerca de 7,4 mil cargos de DAS (Direção e Assessoramento Superior, postos de maiores salários no Executivo) com quadros partidários ou com simpatizantes da sigla.
Lula também demonstrou aborrecimento com a insistência dos entrevistadores em extrair dele uma declaração sobre conquistas do governo de seu antecessor tucano.
'O Fernando Henrique Cardoso não está em julgamento, gente... Ele fala o que fez; eu não preciso falar o que ele fez... Eu não preciso fazer julgamento. Peça para o Alckmin dizer as coisas boas que ele fez . O Alckmin pode ir para a tribuna e defender o Fernando Henrique Cardoso. Por que não o faz? Eu é que não vou!'