Título: Alckmin troca corrupção por saúde em debate morno com Lula
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2006, Nacional, p. A4

Muito contido, sem a agressividade mostrada no debate anterior, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) trocou as perguntas ferinas sobre corrupção pela insistência em explorar a questão da saúde, no debate presidencial do SBT, ontem à noite. Já o presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez o contrário: muito irônico, cobrou posicionamento de seu adversário sobre as privatizações, questão apontada como responsável pela queda nas intenções de voto no tucano nas últimas semanas.

O tema que mais acirrou os ânimos no debate anterior - a corrupção - surgiu já no início do enfrentamento, por sorteio, mas Alckmin se contentou com observações sobre o exemplo que o presidente da República deve dar e não repetiu a pergunta ¿de onde veio o dinheiro?¿, com que insistira no debate anterior. Disse que no governo Lula a corrupção não aconteceu em casos isolados: ¿Foi uma questão endêmica.¿ Sem mencionar o dinheiro apreendido com assessores do PT, afirmou que ¿34 dias depois a sociedade brasileira merece explicações¿.

Lula respondeu com a primeira das muitas ironias com que brindaria o adversário. ¿Já vi que será uma campanha de uma nota só¿, brincou. Recebeu o troco na resposta seguinte de Alckmin: ¿Não é questão de uma nota só, são um milhão, setecentos e cinqüenta mil notas¿, afirmou, referindo-se ao dinheiro (R$ 1,75 milhão) apreendido com assessores do PT no escândalo do dossiê Vedoin.

Lula se defendeu: ¿Se as coisas estão aparecendo agora, é porque o governo, como em nenhum outro momento da história do País, está apurando. Antes, empurrava-se CPI para debaixo da mesa. No meu governo, quando existe um problema qualquer, nós tomamos atitudes e permitimos que as instituições façam o julgamento adequado. O papel do presidente é garantir que a investigação seja feita de forma transparente.¿

HOSPITAIS

O tema mais presente no debate foi a saúde. Alckmin, que é médico, insistiu na questão, sempre criticando o atendimento de hospitais federais de São Paulo e do Rio. Ele listou uma série de críticas à gestão do governo Lula, afirmando mais de uma vez que o petista deixou de investir R$ 1,6 bilhão na área, no ano passado.

Lula rebateu as críticas afirmando que, nas pesquisas de opinião feitas pelo governo, a saúde tem aparecido ¿como uma coisa boa¿. E afirmou: ¿O que fizemos em matéria de atendimentos jamais foi feito na história deste país.¿ Num deslize, o petista disse esperar que o tucano venha a precisar, um dia, da saúde pública. ¿Aí ele vai ver que o atendimento é bom.¿ Alckmin rebateu dizendo que já foi operado três vezes na Santa Casa de Pindamonhangaba, sua cidade natal.

¿O candidato Lula não sabe o que é uma emergência do SUS, para achar que está tudo uma maravilha¿, prosseguiu o tucano. Lula defendeu os gastos sociais do governo e ironizou: ¿Ele faz parte daquele tipo de gente que acha que dar comida às pessoas não é investir em saúde.¿ E desfiou dados sobre sua gestão na área, lendo os números num papel - gesto repetido em várias respostas, ao longo do debate.

Alckmin acusou Lula de não regulamentar a vinculação de 12% do orçamento à saúde ¿para não ter de aplicar¿. ¿A gente só valoriza a saúde quando fica doente¿, cutucou. Lula contra-atacou dizendo que a saúde de São Paulo ¿não foi cuidada¿.