Título: Alckmin admite que errou no caso da privatização
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2006, Nacional, p. A12

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, reconheceu ontem uma falha na estratégia da campanha tucana. Em sabatina do jornal Folha de S. Paulo, o ex-governador disse que foi equivocado o 'embarque' nas discussões sobre privatizações, iniciada pela campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 'Acho que nós erramos. Acabamos embarcando no debate não pelo mérito, mas pela mentira, mentira reiterada', disse.

Ele defendeu as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, classificando-as de corretas, mas insistiu não vai privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica ou a Petrobrás. 'É óbvio que não passa na cabeça de ninguém privatizar. Isso não está no meu programa.'

Depois, em entrevista, repetiu que a pauta das privatizações foi supervalorizada. 'No fundo, pela nossa indignação frente a esse conjunto de mentiras que não têm a menor procedência.' Ele voltou a apontar falhas no governo Lula e afirmou que do ponto de vista ético o País 'retrocedeu à idade da pedra'.

Ao longo de duas horas de entrevista, Alckmin retomou a defesa do fim da reeleição e deu a entender que não tem intenção de disputar a Presidência em 2010, se for eleito agora. 'Eu acabo com a reeleição e começo dando o meu exemplo pessoal, que é fazer um mandato de quatro anos muito bem feito.'

APOIOS

Alckmin criticou aliados de Lula, mas se esquivou ao ser questionado sobre o governador eleito do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), pefelistas que o apóiam e em 2001 renunciaram aos mandatos para escapar de cassação, acusados de violar o painel eletrônico do Senado. 'Se alguém praticou algo errado tem de ser punido. Não se pode ter visão tão sectária e maniqueísta.' À pergunta dos jornalistas, se considerava os dois como exemplo de ética, afirmou: 'São pessoas que trabalharam pelos seus Estados. Não tenho que ficar criticando.'

O presidenciável defendeu a filha Sophia, ao ser indagado sobre o fato de ela ter trabalhado na Daslu, empresa acusada de sonegação fiscal. 'Minha filha era funcionária e não tem nada a esconder.' Em seguida, provocou seu adversário: 'A minha filha não é sócia de empresa concessionária, foi empregada, vendedora de uma loja, trabalhou honestamente. E, aliás, saiu até para não criar maiores constrangimentos.' A resposta foi uma referência ao fato de um dos filhos de Lula, Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, ter relações com a Telemar.

Há 10 dias, Alckmin desautorizou um dos formuladores de seu programa econômico, o economista Yoshiaki Nakano, que defende um corte nas despesas correntes em 2007 da ordem de 3% do PIB (R$ 60 bilhões). Mas ontem procurou azeitar a relação com ele. 'Eu estou plenamente de acordo com o professor Nakano', afirmou, ao defender a necessidade de reduzir gastos. Não falou em metas nem prazos. Só prometeu alcançar déficit zero.