Título: Coréia do Sul rejeita pressão de Condoleezza
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2006, Internacional, p. A20

A secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, não conseguiu convencer ontem os sul-coreanos a suspender dois programas de cooperação econômica com a Coréia do Norte considerados pelos EUA uma fonte de dinheiro para o regime de Kim Jong-il.

O chanceler sul-coreano, Ban Ki-moon - que assume em janeiro o cargo de secretário-geral da ONU -, tentou explicar os ¿aspectos positivos¿ do complexo industrial de Kaesong, onde companhias sul-coreanas empregam mão-de-obra norte-coreana barata. Ele também argumentou como a zona turística de Kumgang (uma montanha sagrada budista) era um ¿projeto muito simbólico¿ para a reconciliação entre as Coréias.

No entanto, o chanceler prometeu que seu país estudará alguns ajustes para que os projetos sejam consistentes com a resolução da ONU que impõe restrições financeiras e de armas à Coréia do Norte.

Na quinta-feira, antes da chegada de Condoleezza a Seul, a agência sul-coreana de notícias Yonhap havia informado que Seul havia decidido suspender os subsídios ao projeto turístico em Kumgang, a poucos quilômetros ao norte da fronteira entre as duas Coréias.

Segundo a agência, que não citou nenhuma fonte, o governo também estava considerando pagar diretamente os salários dos norte-coreanos que trabalham no complexo industrial de Kaesong, em vez de usar intermediários para isso.

Condoleezza enfatizou a aliança EUA-Coréia do Sul e disse que o objetivo não é elevar as tensões na Península Coreana, mas aplicar as sanções aprovadas no sábado pela ONU, a fim de forçar a Coréia do Norte a voltar às negociações e encerrar seu programa nuclear. ¿Não vim à Coréia do Sul, nem irei a lugar algum, tentar ditar aos governos o que eles deveriam fazer para atender a Resolução 1.718¿, disse Condoleezza após reunir-se com Ban e com o presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun. Amanhã, na China, ela deve sofrer outro revés. Provavelmente não conseguirá convencer os chineses a interceptar cargueiros e inspecioná-los em busca itens embargados pelas sanções da ONU. Segundo Pequim, a resolução autoriza, mas não obriga, os países a interceptar e inspecionar os cargueiros que saiam ou cheguem à Coréia do Norte. Um cargueiro suspeito já está sendo monitorado pelos EUA (ler acima).

A China e a Coréia do Sul temem que inspeções levem a confrontos militares. A China também resiste à idéia de reduzir o envio de comida e energia à Coréia do Norte, com medo de que tal medida provoque um êxodo de refugiados e até a implosão do Estado.

Um enviado da China, Tang Jiaxuan, encontrou-se ontem como líder norte-coreano, Kim Jong-il, e entregou uma mensagem (não revelada) do presidente chinês, Hu Jintao, em meio a especulações de que Pyongyang pode estar preparando um segundo teste nuclear.

Segundo o jornal sul-coreano Chosun Ilboa, Kim disse a Tang que a Coréia do Norte retomará as negociações nucleares se os EUA levantarem as restrições financeiras que mantêm contra Pyongyang.