Título: Presidente agora acha 2º turno positivo
Autor: Tânia Monteiro, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Nacional, p. A5

Seis dias depois de ter dito que liquidaria a eleição no primeiro turno e que os adversários teriam de esperar 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que considera importante a realização de uma segunda etapa nas eleições para garantir a governabilidade.

Ao anunciar oficialmente, no Palácio da Alvorada, a parceria com o candidato a governador do Rio pelo PMDB, Sérgio Cabral, Lula defendeu a necessidade de segundo turno e da ampliação de alianças. 'Todo mundo sabe que eu fui um dos batalhadores para que a gente tivesse dois turnos no Brasil', afirmou o presidente, dizendo ter sido defensor da tese na Constituinte de 1988, a partir do que ocorreu com o presidente chileno Salvador Allende (1908-1973). Allende foi eleito com cerca de um terço dos votos, não conseguiu ampliar a frente de apoio para governar e acabou deposto por um golpe comandado pelo general Augusto Pinochet, em 1973.

'Eu achava que alguém eleito presidente da República com 33% dos votos teria muito mais dificuldade de construir uma hegemonia para governar do que se fosse eleito num segundo teste em que a população pudesse, por sua maioria, se manifestar', disse Lula, deixando o triunfalismo de antes da votação de lado.

NOVAS ALIANÇAS

Surpreendido pela necessidade de enfrentar o segundo turno, pois até afirmara que 1º de outubro era é o 'dia de a onça beber água', Lula acabou tendo de sair em busca de novas alianças para tentar garantir a reeleição. Ontem, justificou o apoio recebido de Sérgio Cabral. 'Quando aceitamos a regra de fazer política, nós não temos de ficar achando que só a nossa política é que vale. Temos de entender que, como democratas que somos, às vezes, o nosso projeto não vence e, quando ele não vence, nós temos de nos aliar com outros projetos que estejam mais próximos de nós, com pessoas em que nós confiamos mais', comentou. No primeiro turno ele apoiou o senador Marcelo Crivella (PRB) para o governo do Rio.

'Na política, os momentos bons tardam, mas acabam acontecendo. O que não foi possível construir no primeiro turno está sendo agora construído', disse o presidente, ao lado de Francisco Dornelles (PP), que foi ministro do Trabalho de Fernando Henrique Cardoso. Questionado se a eleição estava fácil de ser ganha no Estado, com a ampliação da aliança, Lula dessa vez preferiu não cantar vitória. 'Não existe eleição fácil.'

À noite, em evento com Cabral no Rio, Lula citou governadores aliados de Alckmin para auto-elogiar seu governo. O petista desafiou os adversários a perguntarem ao governador Aécio Neves (PSDB-MG) se já houve algum presidente que tenha 'cuidado dos pobres' como ele cuidou. A Cláudio Lembo (PFL-SP), Lula sugeriu que perguntassem se 'já houve na história do País um governante que colocasse tanto dinheiro em política social' como ele. 'Falam que eu divido o Brasil entre ricos e pobres, mas eu quero que o Brasil seja só de rico', disse o presidente, no auditório de uma faculdade da zona sul do Rio.

Ao comentar planos econômicos, o presidente disse que o Cruzado foi o mais importante. 'Podíamos pegar o Plano Collor, o Verão, o Bresser, o Real e poderíamos ir pegando outros planos para ver quanto tempo duraram', discursou Lula. 'O mais importante deles, que teve a maior política de distribuição de renda deste País, o Plano Cruzado, durou de 26 de fevereiro de 1986 até as eleições de novembro.'