Título: Lula orienta ministros e aliados a colar em Aécio
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou ministros mineiros e aliados influentes a tentar 'colar' a sua imagem à do governador tucano Aécio Neves, reeleito no primeiro turno em Minas Gerais. Tanto Lula quanto a coordenação de campanha estão certos de que Aécio, potencial candidato a presidente em 2010, não poderá fazer corpo mole no segundo turno por deveres e obrigações partidários. A estratégia, então, é minimizar os efeitos nas pesquisas das fotos do governador ao lado do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, nos comícios, caminhadas e programas eleitorais de TV.

A coordenação da campanha de Lula quer maior presença do ministério em Minas, com mais atos e divulgação de ações do governo federal em todas as regiões do Estado. Sempre que possível, os aliados vão ressaltar a 'boa relação' do presidente com Aécio.

Foi o próprio Lula quem, num telefonema ao governador, deu o tom que ministros e outros aliados devem usar no tratamento com Aécio - muita 'cordialidade' e demonstrações de intimidade e amizade. 'Meu caro, parabéns pela vitória (na disputa para o governo estadual). Mas agora, no segundo turno, você poderia tirar férias e ir passear em Paris', brincou o presidente, no telefonema, segundo uma pessoa do Planalto que ouviu a conversa.

Analistas avaliam que Minas Gerais é o grande peso da balança no segundo turno. Aécio Neves venceu o primeiro turno com 77,03% dos votos, sendo o segundo governador mais votado em proporção do País.

Paulo Hartung (PMDB) foi reeleito no Espírito Santo com 77,27%. O apoio público de Aécio a Alckmin mudou, segundo analistas, o quadro eleitoral. Semanas antes do primeiro turno, pesquisas indicavam que Lula teria 54% dos votos dos mineiros e Alckmin, 31%. Com a maior participação do governador na campanha do tucano, Lula recebeu 50% dos votos em Minas e Alckmin ficou com 40,2%. O vice-presidente José Alencar, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, e o ex-ministro e deputado federal eleito Ciro Gomes (PSB-CE) são alguns dos aliados que telefonam quase diariamente para Aécio. Os aliados estão certos de que o governador mineiro pode se expor com mais discrição no apoio a Alckmin.

Ontem pela manhã, após encontro com Lula, Ciro aproveitou a presença de jornalistas de rádios de Minas para falar 'algumas coisas' aos mineiros. 'O povo mineiro tem de impor uma derrota fragorosa ao Alckmin', disse. 'São Paulo quer destruir Minas e o Rio Grande do Sul para reinar.'

Ciro rasgou elogios a Aécio e disse que o governador está sendo obrigado a cumprir 'deveres' partidários, como fazer campanha para Alckmin. 'Para defender Aécio, o povo mineiro tem de contrariá-lo no segundo turno', disse. 'Quem defende Aécio em Minas deve defender Lula', acrescentou. E disparou ataques aos tucanos paulistas, que atingiram até petistas: 'A tragédia brasileira é a classe dominante de São Paulo. Certo dia fui ao teatro e lá estavam a Marta Suplicy, o José Serra e o João Sayad. O PT e o PSDB em São Paulo, sob todos os pontos de vista, são a mesma coisa', acrescentou. 'São fruto de uma sociologia que não é brasileira.'

O ex-ministro observou que o segundo turno da eleição para presidente é decisivo para as pretensões do governador mineiro. 'Ele (Aécio) está com um pepino para raciocinar. Se acertar, vira um líder nacional', disse Ciro. O ex-ministro aposta que 'Minas Gerais não vai faltar nesta hora', sugerindo que Aécio conseguirá driblar o PSDB paulista.

Um ministro mineiro de Lula afirmou que o governador de Minas já fez 'até demais' para Alckmin no primeiro turno. 'E agora, como é que fica o projeto político dele (Aécio) para 2010? Ele deve descansar da exaustiva campanha para governador agora. Chega de campanha', disse esse ministro.

Já o vice-presidente José Alencar chegou a lembrar, ontem, que a boa relação com Aécio vem dos tempos em que era amigo de seu avô paterno, o ex-deputado federal Tristão da Cunha, que nos anos 1930 assinou o Manifesto dos Mineiros contra o Estado Novo implantado pelo governo Vargas. 'O sentimento de Minas deve falar mais alto', disse Alencar ao ser questionado sobre a atitude de Aécio no segundo turno.