Título: Mantega afirma que liberação de R$ 1,5 bi é rotina
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Nacional, p. A8
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a liberação de R$ 1,5 bilhão anunciada anteontem é 'de rotina' e não tem fins eleitoreiros. Entre as verbas liberadas, há cerca de R$ 58 milhões para rodovias federais em Minas Gerais, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve votação menor do que a esperada. Outros R$ 19 milhões foram destinadas ao combate ao crime organizado em São Paulo, um conhecido calcanhar-de-aquiles da administração do PSDB. Também foram liberados R$ 68 milhões para a construção de eclusas no Pará, onde a petista Ana Júlia Carepa disputa o segundo turno com o tucano Almir Gabriel.
'A liberação, do ponto de vista eleitoral, pode ser vista como negativa, porque estamos aumentando a despesa', disse Mantega. 'Podemos ser vistos como gastadores.' Ele explicou que a maior parte do dinheiro será destinada à Caixa Econômica Federal, que administra programas do governo e recebe uma taxa para prestar esses serviços. Os pagamentos à Caixa estavam atrasados e o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou ao governo que os coloque em dia. A Caixa vai receber R$ 540 milhões, pouco mais de um terço do total liberado. 'Não vejo como poderíamos ter benefício eleitoral com essas liberações', disse.
Mantega comentou ainda que os recursos para combate ao crime organizado em São Paulo, por exemplo, poderiam ser entendido como uma ajuda ao governo do Estado - e não para silenciar cobranças do candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha. Parte das liberações, prosseguiu o ministro, era urgente, como as do programa de prevenção à gripe aviária. Brincando, ele disse que não poderia pedir aos pássaros infectados: 'Não venham para o Brasil, que estamos em período eleitoral.'
A liberação foi anunciada onze dias depois de o governo ter anunciado um corte de R$ 1,6 bilhão em despesas, para para garantir às contas públicas um resultado positivo (superávit) de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) até o fim do ano. Mantega sustentou que essa meta será atingida.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, deu uma explicação diferente. Segundo ele, a maior parte do dinheiro liberado ontem, R$ 1,3 bilhão, era decorrente do superávit financeiro da União. Ou seja, se tratava de um resto de arrecadação que entrou no caixa no final de 2005 e não constava do Orçamento de 2006 - por isso havia ficado sem uso até agora.
Mantega disse que a liberação extra era resultado da boa arrecadação em setembro e a boa perspectiva para outubro. Confrontado com a versão de Bernardo, ele comentou que a diferença de explicações se devia a 'filigranas' técnicas. O ministro do Planejamento teria se referido à forma como o dinheiro seria classificado e ele estaria explicando como o dinheiro teria entrado no caixa.