Título: Para Alckmin, 'desespero' mostra que Lula e PT se agarram a governo
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Nacional, p. A9

O tucano Geraldo Alckmin disse ontem em Salvador que, se eleito, fará parcerias com o petista Jacques Wagner, eleito governador domingo. O discurso foi acertado na véspera pelas cúpulas do PSDB e do PFL em São Paulo, para tentar neutralizar a estratégia do PT na Bahia, de dizer que Wagner conseguiria mais benefícios para o Estado se o presidente fosse Lula.

Mas, apesar de seguir a orientação, o candidato não escapou de um constrangimento, quando o deputado Jutahy Júnior, líder máximo do PSDB baiano e da bancada na Câmara, fez duras críticas ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), de quem é adversário histórico. ACM foi o autor do convite para Alckmin visitar Salvador.

Nas reuniões organizadas por PSDB e PFL, Alckmin criticou Lula e ao mesmo tempo prometeu não discriminar a Bahia: 'Quero ser um presidente diferente de Lula, que perseguiu o governador Paulo Souto (PFL), virou as costas e prejudicou a Bahia.' Sob aplausos, disse que Lula não devolveu aos eleitores baianos a confiança depositada em 2002, quando recebeu votação consagradora no Estado.

Seu objetivo é melhorar a votação na Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste, onde obteve 26% dos votos no primeiro turno. Lula, que teve 66%, vai hoje a Salvador para um grande comício. Apesar da derrota eleitoral do grupo de ACM, Alckmin quis prestigiar os aliados e achou que não seria elegante recusar o convite justamente na véspera do comício do rival.

O constrangimento ocorreu na reunião do PSDB. No discurso, Alckmin citou Wagner três vezes e disse que ele e o petista estarão 'de mãos dadas' em favor da Bahia. Mas teve de ouvir, com a fisionomia fechada, Jutahy atacar ACM e admitir que votou em Wagner. O líder elogiou Souto, que não se reelegeu: 'Ele não foi derrotado, quem perdeu foi o atraso do carlismo.' Ao perceber o desconforto causado, rebateu: 'É para constrangê-lo? Não. Eu poderia falar isso em particular, mas as pessoas sabem o que penso.'

Além de criticar ACM, Jutahy praticamente exigiu que seu candidato dissesse 'uma palavra firme' sobre Wagner, perguntando se o petista seria 'apoiado nos seus pleitos' no caso de ele ser o próximo presidente. O temor do líder tucano é de que, se Alckmin se eleger, ACM se fortaleça e tente retaliação contra o governo do PT.