Título: Indústria cresce 3,2% em agosto e IBGE vê 'recuperação discreta'
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2006, Economia, p. B1
A indústria manteve a trajetória de recuperação discreta em agosto, mas a categoria de bens de capital, que reflete os investimentos, indicou forte reação no mês. Os dados de agosto mostram aumento de 0,7% na produção industrial no País em relação ao mês anterior e de 3,2% na comparação com o mesmo mês de 2005 e revelam, segundo o coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, que os motores de crescimento do setor passam a ser os bens de capital e os bens intermediários, enquanto saem de cena os bens de consumo.
Em agosto, a indústria atingiu o nível de produção mais elevado da série histórica divulgada pelo IBGE desde 1991. E superou em 0,3% o último resultado recorde, de maio deste ano. O crescimento da produção de bens de capital ocorreu acima da média da indústria em agosto, em todas as bases de comparação, com destaque para expansão de 2,8% em relação a julho e 7,4% ante agosto de 2005.
As boas notícias em relação a essa categoria - ou seja, aos investimentos - prosseguem com a constatação de que, em agosto, a expansão desse grupo se ampliou também para as máquinas e equipamentos para fins industriais (14,3% ante agosto de 2005), o que não vinha ocorrendo até julho. Este é o segmento que sinaliza investimentos da indústria em expansão de capacidade produtiva.
Silvio Sales avalia que, 'se a importação (de bens de capital) continua crescendo e a oferta interna também, significa que o bolo de investimentos na indústria aumentou'. Em quantidade, as importações de bens de capital cresceram 18,8% em agosto ante igual mês de 2005. Segundo Sales, boa parte dos equipamentos importados está voltada à expansão da capacidade industrial.
BENS DE CONSUMO
O câmbio, como vinha ocorrendo nos meses anteriores, manteve influência sobre a indústria nos resultados de agosto já que, segundo Sales, as importações de bens de consumo semi e não duráveis (calçados e têxteis) e duráveis (eletrodomésticos) estão afetando os dados de produção dessas categorias. De acordo com Sales, a recuperação da produção industrial é 'discreta' e não é mais acelerada porque há uma 'perda de dinamismo' de bens de consumo.
Mas os técnicos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ressaltam em documento de análise sobre os dados que setores que vinham sendo atingidos pela 'dobradinha' juros altos-câmbio valorizado 'deixaram para trás o pior de sua retração'. Eles citam como exemplo os segmentos de têxtil, vestuário, calçados e mobiliário, que 'voltaram a apresentar uma evolução positiva digna de registro'.
Porém, assim como Sales, o Iedi destaca que, apesar de alguma reação recente na produção desses setores, sua contribuição para o desempenho da indústria neste ano, até o momento, 'é muito pequena'.
De janeiro a agosto deste ano, a produção industrial acumula alta de 2,8% e, em 12 meses, de 2,2%. A produção de bens de consumo semi e não duráveis caiu 0,9% em agosto ante julho e cresceu 1,2% em relação a agosto do ano passado, bem inferior aos 3,5% apurados em julho, em comparação com julho de 2005. Como exemplo da concorrência de produtos importados nessa categoria, Sales cita que o volume de importações desses bens cresceu 20,3% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado.